Por Rogério Galindo, na Gazeta do Povo:
“Ivan Bonilha é eleito conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.” Essa é a notícia mais provável para as páginas de política dos jornais no próximo dia 6 de julho. O presidente da Assembleia Legislativa, Valdir Rossoni (PSDB), já avisou que deve marcar a eleição para o cargo de conselheiro para o dia 5. E Bonilha tem tudo para ganhar a eleição fácil. A não ser em uma situação: se a votação for secreta.
Bonilha é o candidato do governador Beto Richa. E como a maior parte da Assembleia é de governistas (independentemente de quem esteja no governo), a “orientação” do governador é uma ordem. Porém, a lealdade tem seus limites. E a criptonita de Bonilha pode ser o voto secreto. Nesse caso, dizem os próprios governistas, o deputado Nelson Garcia (PSDB) teria alguma chance de derrotar o candidato de Beto.
Rossoni, por enquanto, faz mistério sobre o caso.
Diz que, se fosse por ele, a votação seria secreta. Até porque, afirma ele, antes de assumir a presidência da Casa contestou o fato de a eleição de Maurício Requião ter sido realizada com voto aberto. Agora, não poderia mudar de opinião. Mas há um senão (em política sempre há um senão).
Para ter certeza do que está fazendo, Rossoni diz ter encomendado três pareceres jurídicos sobre o tema. Segundo ele, a avaliação será feita por juristas em quem ele confia – mas cujo nome não revela. Seriam amigos do deputado, fazendo um trabalho voluntário. Na próxima semana, deve haver a definição.
Se a votação for aberta, não há chance de surpresas. “Quem é o governista que vai arriscar a sua sobrevivência política para apoiar o Nelson Garcia? O que é que o Nelson tem para oferecer?”, resume um deputado da base de Beto. Ou seja: a lealdade ao governador passa pelo espírito de sobrevivência.
Nelson Garcia teria mais chance se prevalecesse o espírito de corpo. Mas, para isso, seria preciso garantir que o governador Beto Richa não teria como descobrir quem votou em quem. E aí, só com voto secreto.
Mesmo assim, as chances de alguém derrotar Bonilha parecem pequenas. Deputados já começam a falar, sempre pedindo para seu nome não aparecer, alguns pontos fracos de “Nelsinho”. O principal deles seria o fato de não ter curso superior. “Está certo que o cargo não exige diploma, só notório saber. Mas fica difícil”, diz um parlamentar.
Na verdade, Bonilha se aproxima realmente muito mais da descrição necessária para preencher a vaga. Tem conhecimento técnico e trabalhou por anos no próprio TC. O problema é que não é nisso que estarão pensando os deputados ao votar. Estarão pensando muito mais em agradar ao governador, para quem sabe conseguir mais tarde obras em sua região. Estarão pensando é no próprio umbigo, muito mais do que em “notório saber”.
Afinal de contas, sempre foi assim. Lerner emplacou o próprio cunhado no Tribunal de Contas. Requião, ainda mais afeito ao nepotismo, colocou lá o seu irmão caçula. Richa, na primeira vaga que pôde, colocou um auxiliar. Até o fim do mandato, haverá mais três vagas em disputa. O ideal seria que o governador se afastasse do processo, deixando prevalecer o critério técnico. Mas isso, é claro, ninguém precisa ter notório saber para adivinhar: não vai acontecer.
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