André Gonçalves
Gazeta do Povo
Em conflito com o prefeito Gustavo Fruet (PDT) devido ao fim do subsídio estadual para a tarifa de transporte integrado da Região Metropolitana de Curitiba, o governador Beto Richa (PSDB) diz que foi coerente ao decidir não manter a ajuda. “Não há problema nenhum de perseguição porque mudou prefeito. Estava previsto o subsídio acabar em maio”, declarou. Ao longo de 12 meses, o auxílio representa um aporte de R$ 64 milhões para ajudar a equilibrar as contas do sistema.
Em entrevista concedida no Congresso Nacional, na última quarta-feira, após uma reunião com 23 governadores sobre mudanças no pacto federativo, Richa também falou sobre os planos do PSDB para eleição de 2014 e os problemas de relacionamento com o governo federal. O tucano elogiou a presidente Dilma Rousseff, mas disse que não tem tido “uma boa interlocução com o governo federal” e citou a falta de êxito nas parcerias com a Casa Civil, chefiada pela paranaense Gleisi Hoffmann (PT). “Nós temos preferido tratar direto com os outros ministérios”, afirmou.
Na terça-feira, os governadores do PSDB jantaram com o senador Aécio Neves. A candidatura dele a presidente já está definitivamente consolidada?
O que ele nos falou na reunião é que quer olhar para o lado e ver que tem companheiros. Também confirmou que tem toda disposição [de concorrer]. Aécio é um político determinado; já demonstrou isso ao longo da sua vida. Lembramos que, quando ele foi candidato à presidência da Câmara dos Deputados [em 2001], ainda era muito jovem [tinha 40 anos] e teve êxito porque conseguiu ter um grande poder de articulação. Depois se transformou em um grande governador de Minas Gerais, um dos mais importantes estados do Brasil. Aécio tem uma enorme bagagem e o PSDB estaria muito bem representado com ele. Se houver outros interessados, podemos até ter prévias ou o que for. Mas hoje me parece que ele é o que mais une o partido e com mais potencial para ser nosso representante.
Qual será seu papel na estratégia da campanha presidencial?
Ele disse que vai avaliar o melhor momento de se lançar candidato, de assumir a campanha ou não. Sugeri a ele é que é importante correr o país para se tornar inclusive mais conhecido, empunhar bandeiras de interesse da sociedade, mostrar o que fez como político. Ele disse que ainda vai avaliar tudo isso antes. O que percebi é que ele saiu contente da reunião por ter recebido o apoio dos governadores.
Quando prefeito de Curitiba, o sr. teve uma relação bastante amistosa com o presidente Lula e agora, como governador, tem criticado bastante algumas ações do governo Dilma. O que mudou?
Não temos tido uma boa interlocução com o governo federal, embora eu sempre reconheça o bom tratamento pessoal que a presidente Dilma dirige a mim. Ela é sempre cordial. Eu solicitei a ela uma agenda e ela disse que vai me atender com o maior prazer. Quando estivemos juntos no Paraná, ela sempre se aproximou, ficamos eu e ela sozinhos em deslocamentos de carro, e sempre houve boas referências elogiosas, a mim e ao nosso governo. Sempre tivemos uma extraordinária relação – com ela. Com alguns outros ministros, nós temos alguma dificuldade. Mas posso citar boas parcerias, por exemplo, com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O Paraná tem com o Ministério da Justiça a maior parceria do país na questão do sistema prisional. Ele próprio diz isso, que é graças aos bons projetos que apresentamos, que são rapidamente aprovados. A nossa secretária de Justiça [Maria Tereza Uille Gomes] é muito respeitada em Brasília. Com a Caixa [Econômica Federal], com as casas populares, a relação também é boa. Mas não é em todo lugar que a gente encontra a mesma disposição e agilidade em atender o estado.
A Casa Civil é um desses lugares?
Lá eu não tive êxito até agora. Não posso reclamar do contrário, mas lá eu não teria nenhum resultado para dizer. Nós temos preferido tratar direto com os outros ministérios. O que eu posso dizer é que, por enquanto, dos estados do Sul, o Paraná é o que menos recebeu investimentos. Vão dizer que nós não temos projetos? Nós temos e temos bastante. Outro exemplo: os técnicos da Antaq [Agência Nacional de Transportes Aquaviários] reconhecem que é um equívoco mais uma vez concentrar as decisões aqui em Brasília sobre os investimentos necessários para os portos [as mudanças nos portos públicos defendidas pelo governo passaram pela coordenação da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann]. Nós tínhamos tudo pronto, estávamos com o plano diretor aprovado, com os investimentos aprovados e muito elogiados na esfera técnica do governo federal. Os próprios técnicos dizem: em um ano não acontece nada porque o governo federal não tem condições de fazer as obras e as licitações programadas para os portos brasileiros. Eu digo isso pelo Porto de Paranaguá. Todo o planejamento que fizemos foi muito elogiado aqui e, de repente, puxaram tudo para Brasília. Mais uma vez.
Também como prefeito, o sr. começou as negociações com o governo sobre o projeto do metrô de Curitiba. Como vê o encaminhamento que vem sendo dado à proposta?
Cabe ao prefeito [Gustavo Fruet] decidir sobre isso. Ele tem todo direito de revisar, contanto que tenha agilidade. A cidade espera há muito tempo por essa obra. Temos visto, não só em Curitiba, mas nas grandes cidades, o trânsito se deteriorando rapidamente com o grande aumento da frota de veículos. É urgente há algum tempo a implantação do metrô, que nós levantamos na nossa gestão. Mas, obviamente, o prefeito tem o direito de conhecer melhor o projeto.
Também foi sua bandeira a contribuição do governo federal para a redução da tarifa do transporte coletivo.
Sim. Olha, eu queria dizer que essa celeuma com o Gustavo [sobre o subsídio estadual da tarifa de transporte da região metropolitana de Curitiba] é uma coisa tão desnecessária… Ele quer atribuir a mim uma responsabilidade que não existe. Eu sou coerente com os meus princípios. Sou coerente e provo. A única coisa que eu pedi ao [Roberto] Requião, quando ele era governador e eu prefeito, era a isenção do ICMS sobre o óleo diesel [do transporte coletivo]. Se você pegar o meu plano de governo está lá, escrito, registrado em cartório: isenção do ICMS sobre óleo diesel. É o que eu estou fazendo hoje. E não está bom… Não estou fazendo algo diferente do que eu esperava quando era prefeito. Quer mais coerência do que isso? Quer mais transparência? Não há problema nenhum de perseguição porque mudou o prefeito. Estava previsto o subsídio acabar em maio. Ele e o Luciano Ducci foram os dois únicos prefeitos da história beneficiados por um subsídio estadual. Eu não fui e não pedi [o subsídio]. Cada um tem que assumir as suas responsabilidades. Governar não é só todo dia anunciar medidas simpáticas. Todo governante tem que ter coragem de anunciar medidas impopulares, que são vitais para a cidade, para o estado, para o Brasil. Isso faz parte de um dia a dia do governante.
Quando o sr. negociou com o então prefeito Luciano Ducci a questão do subsídio, negociou mesmo com data para acabar?
Sim. Nem pensei que o Luciano iria perder a eleição. [Mas] já estava previsto no contrato de convênio que iria acabar em maio e que, de maio para frente, estudaríamos uma outra medida – a isenção do ICMS.
Como está a relação do sr. com o senador Alvaro Dias (PSDB)?
Eu liguei para ele na semana passada, pedi para a gente conversar. Disse que não suporto mais tantos interlocutores trazendo recados e levando recados. Está na hora de a gente sentar e ver o que faz. Houve um afastamento depois da minha indicação ao governo do estado [em 2010], mas acho que já está sendo superado.
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