Como se vê por aí, a máquina do tucano Beto Richa abriu o jogo na disputa das eleições de 2014 e começa a se preparar para a luta nos 20 meses que faltam para o pleito.Agora se engana quem pensa que Gleisi Hoffmann, a estrela do petismo paranaense, e seu marido, Paulo Bernardo, o mentor de Gustavo Fruet no PDT, assistem de camarote, apreensivos, a escola de Beto Richa passar na avenida. O casal também se movimenta e muito, num jogo quase imperceptível ao grande público, mas que provoca sonoros ruídos no esquenta político de 2014. A força se vê nas propagandas do governo federal em páginas dos jornais e revistas, nas grades de TV’s e rádios, nos blogs e no trabalho, cada vez mais profissional e de grande alcance, das chamadas redes sociais que pululam na internet. “Hoje, qualquer jornal de bairro tem anúncio do governo federal. E as redes sociais são tocadas por empresas com expertise nesse campo. É tudo muito profissional”, diz um assessor tucano na Assembleia Legislativa.
“O aparato da mídia do governo federal vai servir a quem?”, questiona o tucano. “É risível: o ministro (Paulo Bernardo) tem até porta-voz na imprensa paranaense. Não vou dizer o nome, mas todos sabem de quem estou falando”, prossegue.
Os queixumes do tucano não podem ir além da conta, mas o certo mesmo é que Gleisi já tem aval da presidente Dilma Roussef e do ex-presidente Lula para disputar o Governo do Paraná. Dilma vai expor mais sua ministra predileta que fica mais um ano na Casa Civil e depois volta ao Senado. Em todos os eventos de bondades do governo federal nesse período, Gleisi já se posta a anunciar. No encontro nacional dos prefeitos, em Brasília, fez questão de organizar um evento paralelo com os prefeitos paranaenses e dá-lhe investimentos e parcerias federais. Não será fácil para Beto Richa.
Mas quem disse que o será? O esmero de Gleisi tem sido tamanho que uma empresa cuida da sua imagem e se especula que a ministra deu uma repaginada no visual e no corpo para ficar ainda mais bonita para o eleitor paranaense. Enfrentar o bonitão Beto Richa também não será uma tarefa fácil.
Gleisi, Paulo Bernardo e o PT se sentem vitaminados com a eleição de Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba. A capital paranaense e sua região metropolitana representam 27% do eleitorado do estado. Fruet corre para pagar a fatura do apoio que recebeu do casal petista. Assumiu o consórcio que cuida do lixo na região metropolitana e junto com Gleisi, fez campanha para Professor Luizão, do PT, na disputa da associação dos municípios metropolitanos. Gleisi se empenhou e ligou para cada um dos 26 prefeitos, mas a eleição acabou empatada e junta eleitoral consagrou Luizão por ser mais velho que seu oponente, Aldnei Siqueira (PSD), prefeito de Almirante Tamandaré. O pleito está sub judice.
Os blogs apontam que Fruet coordenará a campanha de Gleisi na região metropolitana de Curitiba. Vai pegar mal. O prefeito disse ao eleitorado que é diferente dos políticos tradicionais – apesar de nunca ter se afastado do núcleo do poder no Estado – e está enfrentando o “mundo real”, como dizem os blogueiros. A primeira greve na saúde, a primeira greve de motoristas e cobradores, a primeira manifestação dos sem teto, a primeira morte na fila do SUS e as primeiras críticas dos aliados do PDT e do PT que ainda não conseguiram uma boquinha na prefeitura.
Mudanças – Para abocanhar novamente o governo com facilidade em 2014, Beto Richa anunciou 10 mudanças no governo. Abrigou ou ampliou espaços de aliados considerados fundamentais para mais quatro anos no comando do Estado. O PSD está mui contente, além do Turismo, ocupa agora a Casa Civil, um posto chave na máquina do governo. O PSB, do ex-prefeito Luciano Ducci, ficou com duas secretarias: Administração e Relações com a Comunidade -, além da Saúde. Ao PSC, da nova liderança política, Ratinho Jr, coube o Desenvolvimento Urbano – o braço de R$ 2,1 bilhões em obras às pequenas cidades.
Ainda tem mais: o PPS não perdeu espaço. Cezar Silvestri ficou na recém criada Secretaria de Governo – responsável na articulação política com deputados, prefeitos e vereadores. Richa também convocou o vereador Zé Maria, de Curitiba, para a Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência. De quebra abriu uma vaga na Câmara de Vereadores para Renata Bueno, filha do deputado Rubens Bueno – um dos principais líderes da oposição no Congresso Nacional. O pai disse que não foi consultado, mas com certeza gostou que a filha, que disputa eleição ao congresso italiano, fique com a suplência assegurada no legislativo curitibano.
E tem ainda o PMDB. O baile é longo, cheias de idas e vindas, com direitos a cantorias de Orlando Pessuti, pisão no pé e vergonhas escancaradas como aconteceu com Marcelo Almeida que vai ocupar a vaga de Reinhold Stephanes na Câmara dos Deputados. “O problema que o PMDB são muitos”, diz um especialista no partido que classificou como “esperta” as movimentações de Pessuti. “Ele usou muito bem a ‘sondagem’ e hoje seu grupo fala até em presidência da Itaipu e disputa do governo do Estado”. Noves fora o Pessuti, o PMDB precisa buscar a unidade na bancada da Assembleia Legislativa. O partido já tem uma secretaria assegurada – Luiz Claudio Romanelli no Trabalho – e pode levar mais uma, fala-se no Planejamento, Agricultura ou Meio Ambiente, e a Sanepar que estava reservada de porteira aberta para Pessuti.
Beto Richa vai se reunir e bater o martelo com os 12 deputados assim do regresso dos trabalhos na Assembleia. Mais um deputado estadual vai compor o secretariado de Richa e se Pessuti continuar com o leilão, outro posto poderá ser indicado por Osmar Serraglio, atual presidente estadual da legenda. “Muita calma nessa hora. O que você está me dizendo, ainda está no campo das especulações. De concreto é que a bancada está unida na base do Beto na Assembleia. Ele (Richa) tem dito que é importante ampliar a participação do partido no governo e essa conversa (com deputados) será em fevereiro”, disse um deputado que arrematou: “na muda, passarinho não pia”.
Os partidos da casa – PSDB, PP e DEM – continuam fortalecidos. Apesar de parte de imprensa pinchar as mudanças como política, os técnicos Cássio Taniguchi (DEM), Ricardo Barros (PP), Flávio Arns (PSDB) e Luiz Carlos Hauly (PSDB) continuam firmes e fortes, respectivamente, no Planejamento, Indústria e Comércio, Educação e Fazenda. O PP tem ainda o Meio Ambiente, os tucanos se fortaleceram, mais ainda, com Fernando Ghignone na presidência da Copel, mas falta acertar com o PTB do deputado Alex Canziani. É sempre bom lembrar ainda que PSDB, DEM, PMDB, PPS, PTB e PSC comandam o legislativo paranaense.
Eleições municipais – Tem-se ainda outra ponderação na conjuntura. O resultado das eleições municipais influirá na disputa de 2014? Se sim, Gleisi está fortalecida, mas Beto Richa não fica atrás. Seus aliados venceram nas principais cidades do estado, excetuando Curitiba. Alexandre Kireff (PSD) em Londrina, Carlos Pupin (PP) em Maringá, Marcelo Rangel (PPS) em Ponta Grossa, Reni Pereira (PSB) em Foz do Iguaçu, Cezar Silvestre Filho (PPS) em Guarapuava.
Todos os cinco são aliados de Richa. Até os pedetistas Edgar Bueno em Cascavel e Augustinho Zucchi em Pato Branco têm um que de Beto Richa correndo nas ruas das duas cidades.
“O PMDB que se cuide (na reforma de Richa), o PDT está chacoalhando os 300 currículos rejeitados por Fruet”, era a chiste da semana na Boca Maldita de Curitiba. As críticas do partido pela falta de espaço no governo Fruet nem coça faz em Gleisi que projeta a chapa com Osmar Dias (PDT) candidato ao Senado (será uma vaga) e provavelmente o PV na vice. Tanto que Wilson Picler sonda o PV de olho na vaga de vice que Osmar Dias garante que é sua – não vai querer disputar o Senado com o irmão Alvaro que também não tem vaga garantida no ninho tucano. Tamanha confusão que será definida, como sempre, aos 48 minutos do segundo tempo, ou seja, lá para o final de junho de 2014. De certo e se todos os santos ajudarem, a chapa de Gleisi terá PT, PDT, PV, PR e o indefectível PCdoB, entre outros nanicos.
Voltemos ao campo do resultado das eleições municipais. O mapa eleitoral dos novos prefeitos deixou estado dividido entre as forças políticas. O PSDB elegeu 75 prefeitos, o PMDB conquistou 55 prefeituras, PT (40 prefeitos), PDT (37), PSD (34), PP (30), DEM (23), PPS (21), PR (18), PTB (17), PSB (14), PSC (12) e PV (9 prefeitos). O PDT vai governar a maior fatia do eleitorado (1.896.951 eleitores) – Curitiba deu esse upgrade, seguido do PMDB (927.205), PT (74.3410), PSD (714.369) – o upgrade veio com Londrina, PSDB (609.071), PP (464.475), DEM (413.168), PSB (249.413), PPS (239.147), PTB (236.817), PR (207.741), PSC (187.918), PHS (95.908) e PV (53.753).
Percentualmente, as prefeituras do PDT concentram 26,6% do eleitorado paranaense, as do PMDB, 13%, PT (10,4%), PSD (10%) e PSDB (8,6%) e assim por diante. Diante do quadro se sugere que os dois campos – o de Gleisi e do Beto Richa – estão bem divididos e que o fiel da balança é o PMDB. Por isso tanto empenho de Beto em atraí-lo e de Gleisi, de dissuadi-lo. “Essa é uma conta muito simples que não se aplica numa eleição estadual. Você pode observar que na maior parte das cidades, a eleição foi muito polarizada, poucos prefeitos foram eleitos acima dos 60% dos votos. A maior faixa se concentrou entre 50% e 60%, o que mostra cidades divididas em forças políticas que se concentram em dois grandes grupos, muitas vezes, sem vínculos ou matizes ideológicos próximos”, diz o matemático Luiz Carlos Kossar que correu o Oeste, Noroeste e Norte do Paraná pesquisando a preferência do eleitorado na campanha de 2012.
Eleitor exigente – Kossar diz que o eleitor está mais exigente. “Este se fechando um ciclo assistencialista que se resume numa parceria com rico e migalhas aos pobres. A população quer um modelo mais aberto na economia, onde todos participem e com desenvolvimento econômico. Esse modelo que fez o Brasil crescer – crédito consignado e desoneração de impostos – se exaure e o eleitor cobra qualidade de vida na porta de sua casa. Isso vai pautar a disputa no Estado e no país”.
O matemático diz ainda que no caso do Paraná, o PT ainda é estigmatizado, carece de maior inserção popular, mas pela primeira vez tem uma candidata de ponta. “Já era tempo. O PT completa 10 anos de poder no governo federal e tem a Itaipu, que praticamente um ministério, e levou todo esse tempo para construir uma liderança capaz de polarizar um enfretamento político. É muito tempo, mas ainda não é tarde”. Sobre a conjuntura parecer adversa a Beto Richa em Curitiba, Kossar de lembrar Roberto Requião que venceu duas vezes para governo do Estado sem a prefeitura de Curitiba nas mãos. “Em 2006, o interior assegurou a vitória de Requião. Esse é um bom caminho para Beto Richa percorrer”.
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