por Chico Felitti, na Folha de S.Paulo
O empresário do agronegócio Renato de Rezende Barbosa estava entre os convidados pelo novo presidente do Paraguai, Horacio Cartes, para uma reunião com empresários na última sexta-feira, dia seguinte à sua posse.
No sábado, uma das terras do brasileiro sofreria o que o governo diz ser o primeiro ataque do grupo guerrilheiro EPP (Exército do Povo Paraguaio) na nova gestão.
Cinco seguranças da fazenda Lagunita, em Tacuatí, cidade da província paraguaia de San Pedro, foram mortos na tarde de anteontem.
Uma camionete que levava seis trabalhadores dentro da fazenda foi parada por um bando armado. Os passageiros foram obrigados a descer do veículo, que em seguida foi incendiado. Um dos reféns, que o dono da fazenda diz ser capataz, foi libertado e chamou por ajuda.
Dois carros de polícia que iam à fazenda foram recebidos com tiros, e um agente se feriu. Jornais locais reportam que a polícia levou o colega ao hospital e esperou reforço antes de tornar à região.
Quando retornaram, na madrugada de domingo, acharam cinco corpos à beira de um rio. O instituto forense diz que as vítimas levaram um ou dois tiros na cabeça e estavam ajoelhadas.
“Seremos implacáveis em restabelecer a ordem e a presença do Estado em toda a República”, disse o presidente Cartes. O ministro do Interior, Francisco de Vargas, anunciou ontem a “presença massiva” de policiais e não descartou a militarização da área.
“Fica claro que essa organização terrorista pretende coagir autoridades e cidadãos paraguaios com terror”, disse Vargas em entrevista coletiva.
Criado em 2008, o EPP é conhecido por promover sequestros de fazendeiros, ataques a propriedades e a delegacias policiais. Houve mais de 60 ataques a propriedades rurais no país nos últimos quatro anos, a maior parte deles atribuída ao EPP.
BRASIGUAIOS
“Você não sabe se há algo específico contra brasileiros. Eu acredito que não [haja]”, diz Renato de Rezende Barbosa, o dono da fazenda.
Ele é um dos 300 mil brasiguaios que formam a maior colônia estrangeira no país.
“Só pode ter sido um ato terrorista, não tem outra explicação. Um aviso para o governo”, disse o empresário à Folha já de volta ao Brasil.
Os ataques, diz o pecuarista e agricultor, são uma constante na propriedade, em que não há cultivo, apenas criação bovina. “Toda semana tentam roubar cabeças de gado. Geralmente é para matar e comer. Agora foi diferente.”
Rezende diz esperar que o presidente não ceda a pressões do grupo guerrilheiro. “Esse cara novo [Cartes] não é político, é empresário, então pode fazer um bom governo para o Paraguai. Como faria com uma empresa.”
Outros brasileiros que têm negócios na região se dizem tensos com a situação. “A gente fica de sobreaviso. O próximo pode ser qualquer um”, diz Áurio Frigueto.
Questionado se o incidente abalou sua vontade de seguir fazendo negócio no Paraguai, onde está há mais de quatro décadas, Rezende responde: “Estou na época de preservar a esperança. Por menor que seja”.