Hélio Schwrtsman/Folha de São Paulo
“Leis, como salsichas, deixam de ser respeitadas à medida que descobrimos como são feitas.” A frase, falsamente atribuída ao chanceler Otto von Bismarck (1815-1898), parece ter sido cunhada para designar a CPI do Cachoeira.
É verdade que ela começou meio por acaso. Embora contrariasse os interesses de todos os grandes partidos, que parecem ter lideranças envolvidas nas estripulias do bicheiro, a comissão acabou vindo à luz num arroubo do ex-presidente Lula. Quando parlamentares finalmente se deram conta de que os ônus potenciais superavam os bônus, já era tarde demais para recuar.
O resultado é o festival de conchavos e bizarrices a que agora assistimos, desde os esforços despudorados para limitar as investigações até a eloquente sala-cofre, onde todos os congressistas são tratados como suspeitos, passando pelo estrondoso silêncio de Cachoeira em seu depoimento.CPIs nunca foram um instrumento eficaz de investigação. Nós, jornalistas, gostamos delas porque dão dramaticidade a um processo que tem muito de aborrecido, mas parlamentares, com raras exceções, não têm a técnica nem o treinamento de policiais e, por isso, deixam escapar pontos importantes, quando não fazem coisas piores, como invalidar provas.
Algumas vezes, porém, a ineficiência perquisitiva é compensada pela visibilidade política que a comissão dá a um caso, podendo até mesmo exercer uma função cívico-pedagógica, como ocorreu na CPI que levou ao impeachment de Collor.
No caso da CPI do Cachoeira, porém, estamos no pior dos mundos. Ela não só tem reduzidas chances de produzir avanços nas investigações como ainda escancara a desfaçatez com que políticos, para resguardar desígnios particulares e momentâneos, sacrificam o interesse da sociedade em conhecer a rede de corrupção montada por Cachoeira e a própria imagem do Legislativo. E isso nos leva às salsichas.
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