Editorial, Estadão
A melhora da economia brasileira em 2017, depois de dois anos de recessão, pode começar pelo campo, com uma safra de grãos de 213,1 milhões de toneladas – se o tempo, como se espera, for favorável. Sinais de recuperação, ainda escassos em outros setores, aparecem bem mais claramente na atividade do campo. Se as previsões se confirmarem, os produtores, com mais dinheiro, poderão dar um bom impulso aos negócios, inicialmente no interior e depois em toda a cadeia de circulação de bens e serviços. Além disso, a maior oferta de alimentos e matérias-primas garantirá preços mais estáveis e previsíveis, mas esse efeito dependerá também do desempenho de outros tipos de lavouras e da pecuária. A colheita prevista para a safra 2016-2017 será 14,2% maior que a da temporada anterior, pelos números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), subordinada ao Ministério da Agricultura. Esse aumento compensará com alguma folga o recuo do ano anterior, quando a produção, de 186,6 milhões de toneladas, prejudicada pelas condições do tempo, foi 10,6% menor que a de 2014-2015.
Aumentar a eficiência da economia nacional será um dos principais desafios para os governantes nos próximos anos. Também o agronegócio precisará de mais investimentos, mas o setor já se distingue há muito tempo como o mais competitivo do Brasil. Em 2016, como ocorre há um bom tempo, as exportações de alimentos e outros produtos originários do campo têm sido o pilar mais importante do comércio exterior.
De janeiro a outubro, o agronegócio embarcou mercadorias no valor de US$ 73,1 bilhões. Embora o valor tenha sido 2,2% menor que o de um ano antes, o desempenho foi suficiente para garantir um superávit de US$ 62,1 bilhões. Isso foi mais que suficiente para cobrir o déficit acumulado em outros segmentos e ainda garantir ao País um saldo positivo de US$ 38,5 bilhões. Houve sem dúvida alguma contribuição do setor de manufaturados para a recuperação da balança comercial, mas o agronegócio continuou no papel principal.
Para remontar a política nacional de desenvolvimento, os governantes deveriam refletir mais seriamente sobre o desempenho, no último quarto de século, da agropecuária e da indústria vinculada ao campo. Nesse período a produção aumentou bem mais que a área ocupada pela agropecuária. Ao mesmo tempo, o setor se consolidou como um dos mais competitivos do mundo. No entanto, a agropecuária brasileira é uma das menos subsidiadas, e a diferença se torna muito clara quando a comparação envolve o mundo rico.
Os números têm variado ano a ano, mas, pelos últimos levantamentos, os subsídios agrícolas proporcionam, em média, 17% da renda do produtor, em todo o mundo. As proporções têm estado entre 20% a 25% na União Europeia e na China e em torno de 12% nos Estados Unidos. No Brasil, têm ficado próximos de 5%.
Recursos naturais são parte da explicação, mas a pesquisa e a absorção de tecnologia têm sido os principais fatores de aumento da eficiência no campo brasileiro. É indispensável manter o esforço de modernização, mas o caminho é conhecido. O governo petista chegou a tentar o aparelhamento e a politização da pesquisa, mas houve resistência e pelo menos nessa área a manobra foi de curto alcance.
Mais empenhado em acompanhar os melhores padrões internacionais, o agronegócio tem avançado com limitada ajuda oficial – crédito apenas suficiente, preços mínimos e grande contribuição dos organismos de pesquisa. Na indústria, a interferência governamental, com protecionismo e ampla distribuição de favores, foi insuficiente para produzir inovação e ganhos de competitividade. O governo pode, é claro, fazer mais pelo agronegócio. Uma das tarefas urgentes é promover investimentos em logística. Neste ano, a Confederação Nacional dos Transportes classificou como inadequados 58,2% dos trechos de rodovias examinados em sua pesquisa periódica. Cuidar de problemas como esse rende muito mais que distribuir favores fiscais e financeiros, como fez o PT durante anos.
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