do Meio e Mensagem
“Eu estava errado.”
Assim Paul Miller, editor sênior do portal The Verge, inicia seu texto de retorno à internet, um ano após sua jornada desconectada. A experiência nasceu de sua própria vontade de se distanciar da rede por entender que ela poderia ser, na época, mais nociva do que positiva em seu dia-a-dia. “O que me preocupa é que sou tão ‘adepto’ da internet que encontrei formas de preencher cada fresta da minha vida com ela, e estou quase certo de que a internet invadiu alguns lugares aos quais não pertence”, disse então. Ele se desconectou de todos seus aparelhos, inclusive seu smartphone – optando por um antigo “dumbphone”, como descreveu um celular cujo maior avanço tecnológico era, além de fazer ligações, enviar curtos SMS.
No longo texto em que anuncia sua volta à internet, Miller relembra que convivia diariamente com a internet desde os 12 anos e que trilhou uma carreira profissional voltada à tecnologia e a sua cultura – hoje tem 26 e foi editor do Engadget antes da Verve. Reconhece que houve, principalmente no início, a reconquista de hábitos que pouco cultivava no dia-a-dia, como maior dedicação à escrita e leitura, flanar pela cidade e por parques de Nova York e encontrar amigos e parentes pessoalmente. Mas isso foi se dissipando por problemas pessoais que nada tinham a ver com a World Wide Web.
Com o passar do tempo e a diluição do entusiasmo original, ele tendeu a ficar em casa, jogando videogames antigos, ouvindo áudio-livros e escrevendo as missivas regulares sobre sua experiência, que às enviava por meios analógicos ao Verve, que as republicava. “Eu tenho muitas das mesmas prioridades que tive antes de sair da internet: família, amigos, trabalho, estudos”, escreve. “E não tenho garantias de que permanecerei firme com tais compromissos quando eu voltar à internet – provavelmente não irei, para ser honesto. Mas pelo menos eu sei que não é culpa da internet”.
Continua: “Eu lia muitos posts de blogs e artigos de revistas e livros sobre como a internet nos tornava sozinhos, ou estúpidos, ou sozinhos e estúpidos, e eu comecei a acreditar neles. Eu queria descobrir o que a internet estava ‘fazendo comigo’, e eu comecei a lutar contra. Mas a internet não é uma busca individual, é alguma coisa que fazemos com os outros. A internet está onde as pessoas estão”.
Quase ao fim do texto, Miller conta que havia encontrado, recentemente, sua sobrinha de cinco anos e tentou explicar a ela o que era a internet. Ela nunca havia ouvido falar de internet, mas estava sempre no Skype conversando com os avós e parentes. “Perguntei se ela imaginava por que nunca eu havia conversado com ela no Skype naquele ano. Ela falou que sim. ‘Achei que você não quisesse’, disse.”
E finaliza:
“Quando eu voltar à internet, talvez não a use bem. Talvez eu perca tempo, ou fique distraído, ou clique nos links errados. Eu não terei muito tempo para ler ou ficar introspectivo ou escrever um grande romance americano de ficção científica. Mas pelo menos eu estarei conectado.”
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