Ao seu estilo, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) rebateu reportagem veiculada no final de semana pela revista Veja, sobre a segurança pública do Paraná.
A revista usou como base os números não muito “confiáveis” fornecidos pelo Ministério da Saúde sobre a violência no Parnaá, na década de 1990, em comparação aos números mais transparentes implantados nos dois últimos governos de Requião (2003-2006 e 2007-2010).
Clique no “mais” e leia a íntegra da porrada requiônica, traduzida em nota extraída do site do senador:
“Requião rebate matéria e apresenta dados reais da segurança pública no Paraná
O senador Roberto Requião (PMDB/PR) comentou nesta segunda-feira (06) matéria da revista “Veja” sobre a violência em Curitiba. Requião comunicou que, mesmo citado na matéria, não foi procurado pela reportagem. O ex-secretário de Segurança Pública e os ex-chefes das Polícias Civil e Militar também não foram ouvidos. Já que a revista não abriu espaço para o contraditório, o senador está divulgando por conta própria as informações abaixo:
A revista “Veja” desta semana, a inefável e nunca suficientemente deplorada revista “Veja”, traz uma matéria típica dessa fase de sua vida em que substituiu o jornalismo pela informação ligeira, que não apura os fatos, que não ouve o outro lado, que aboliu o contraditório, que despreza a verdade dos números, que tortura a verdade até que ela se enquadre, submeta-se “ao padrão Abril de jornalismo”.
Que saudade do Mino Carta, o primeiro diretor do jornalismo da revista, e sua obsessão pela “verdade factual”, pela máxima que todos nós jornalistas devemos ter como guia: a verdade está nos fatos.
Sob o título “Mas logo Curitiba?”, a revista constata o óbvio, ou seja, que a capital do Paraná, espremida por uma periferia deserdada, tornou-se uma cidade violenta. Não há novidade alguma nisso. De resto é o que se dá Brasil afora, desde sempre. Afinal, além de campeões mundiais de juros altos, somos também detentores da coroa de um dos países mais injustos, mais desiguais, que mais concentra renda, que mais cava o abismo entre pobres e ricos.
É claro, a causa primeira da violência, a raiz do mal, não interessa à “Veja”. Ela foi buscar culpados mais à mão e indigitou o meu governo, de janeiro de 2003 a março de 2010, como responsável pela escalada da violência em Curitiba.
Apoiando-se em quê? Apoiando-se em estatísticas sabidamente distorcidas, assimétricas, desconcertadas, que se baseiam em dados pouco confiáveis, quando não falseados, que são as estatísticas sobre mortalidade do Ministério da Saúde.
Vou dar um exemplo dessa estatística amalucada, abilolada .
Segundo matéria publicada na “Folha de S. Paulo”, em março de 2009, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ignorava, não sabia, logo não computara, o total de mortes ocorridas no estado entre os anos de 1995 a 2000. Os documentos sobre o período haviam sido destruídos. Pior ainda: a Secretaria paulista só contabilizava ocorrências de homicídio, não de vítimas. Assim, uma chacina com cinco vítimas era considerado um homicídio.
Foi de estatísticas assim, absurdamente manipuladas, que “Veja” se valeu para cotejar os números paranaenses. Como comparar os números de Curitiba com os do Rio e de São Paulo se os métodos de contagem são absolutamente diversos? Se São Paulo escondia (não sei se ainda esconde) o total de vítimas de um massacre, por maior que tenha sido o número de vítimas, atribuindo ao ocorrido um só homicídio, porque supostamente houvera um só assassino, no Paraná contávamos como se deve contar.
Outra diferença: São Paulo e Rio, assim como outros estados, na produção de suas estatísticas, não contabilizam as vítimas cujas mortes não foram apuradas.
Se a vítima foi assassinada com cinco, dez ou 20 tiros, mas a morte não foi apurada, isto é, seus autores não foram identificados, essa morte não entra na estatísticas de vítimas de homicídio, cai no limbo das “mortes por apurar” e lá permanecem ad aeternum.
Como então, oh gloriosa revista da Abril, falar em média nacional se os métodos de coleta dos números são díspares? Se São Paulo inventou uma nova matemática para contar o número de vítimas e o Rio não conta o morto cujo assassinato não tenha sido apurado?
Quando assumi o governo do Paraná, em 2003, exigi transparência absoluta nas estatísticas policiais. Afinal, queria conhecer a verdade dos números para poder agir, para formular a minha política de segurança.
Outra fonte de “Veja” foi o ex-governador Jaime Lerner, meu antecessor. Deus meu! A revista não poderia ter escolhido pior informante. Sob o governo Lerner, toda a cúpula da polícia paranaense caiu, foi corrida, por envolvimento com o narcotráfico e pela absoluta desídia frente ao avanço da criminalidade. Sob o governo de Lerner, diante da leniência de sua excelência, a chamada “banda podre” da polícia comandava a segurança pública no estado.
Para comparar os índices de homicídio do governo dele com os de meu governo, a revista não recorre às estatísticas existentes e sim aos números falhos do Ministério da Saúde. Se “Veja” quisesse a verdade, consultaria as tabelas históricas da polícia paranaense que mostram que, ano por ano, houve menos homicídios por mil habitantes em meu governo que no governo anterior. Quando assumi, a média de homicídios por mil habitantes era de 30,82. No último ano de meu governo, em 2009 o índice havia caído para 24 homicídios por mil habitantes. Não quero dizer que se trata de uma estatística confortável, mas ela mostra que o meu governo agiu.
De qualquer forma, em nenhum dos anos que governei, os índices chegaram ao descontrole de 40,64 homicídios por mil habitantes, como foi o ano de 1997, sob a gestão de Lerner.
Como eu disse, há ainda que se considerar que, em meu governo, a produção de estatísticas foi a mais transparente possível, não escondendo nada revelando tudo.
Quanto aos investimentos, não há como comparar um governo e outro. Em 2002, último ano de Lerner, a segurança pública do Paraná teve um orçamento de R$ 592 milhões.
Em 2010, no último orçamento que elaborei, destinei R$ 1,5 bilhão para a segurança pública do Paraná. Ao todo, gastamos sete bilhões e meio em segurança pública, números jamais igualados.
Ao contrário do que a revista e seus informantes omitem ou distorcem, contratamos mais de dez mil policiais, civis e militares, peritos criminais e médicos legistas. Não incluo aqui os agentes penitenciários que contratamos para atender as 13 novas penitenciárias que construímos, mais que dobrando o número de vagas.
Renovamos completamente o armamento de nossas polícias. Foram mais de 17 mil novas e modernas armas, 30 mil coletes balísticos, seis mil e quinhentas novas viaturas. Além de aviões, barcos, motos e helicópteros.
Essa renovação radical da estrutura física de nossas polícias era essencial para que pudéssemos por em prática uma nova política de segurança, uma nova concepção, que tinha como meta a implantação de uma polícia comunitária, integrada à população, sempre perto dela, vivendo o seu dia-a-dia, o tempo todo atenta à sua proteção.
O Projeto Povo, principal iniciativa do policiamento comunitário, foi implantado em todos os bairros de Curitiba e nas principais cidades do estado. Criamos ainda a Patrulha Escolar Comunitária, atendendo mais de duas mil escolas paranaenses. A Patrulha Rural Comunitária, para dar proteção aos nossos produtores rurais. E o Bombeiro Comunitário, para atender as cidades que não contavam com o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar.
A par disso, quase triplicamos o número de Conselhos Comunitários de Segurança, os Consegs, abrindo o debate da segurança pública para toda a população.
Reestruturação das polícias, policiamento comunitário, repressão ao crime organizado, guerra ao tráfico de drogas, combate à corrupção policial, recomposição salarial, política de promoção e valorização dos policiais. Foi assim que agimos. E os resultados foram expressivos.
No combate ao tráfico de drogas, por exemplo, transformamos o Paraná no Estado que mais apreendeu drogas em todo o país. É bom lembrar que o 181, o disque-denúncia, é um projeto paranaense, de meu governo, que deu certo e foi depois implantado em todo o país. Criei uma unidade especial, dedicada a reprimir o tráfico de drogas.
E outra unidade para combater os crimes de fronteira, entre eles o tráfico de armas.
Criei ainda uma unidade para combater os crimes de colarinho branco e investi fortemente na unidade criada para combater os seqüestros, que, em meu governo, teve cem por cento de êxito em suas ações.
Reestruturei os conselhos das polícias Militar e Civil, incorporando neles dois representantes do Ministério Público, quebrando o corporativismo na apuração da corrupção policial. Em parceria com o Ministério Público, descentralizamos a atuação do GAECO, criando unidades do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado nas principais cidades paranaenses.
Para dar à segurança pública o máximo possível de eficiência, adotamos o geoprocessamento, construindo o projeto “Mapa do Crime”, elaborado com base nas ocorrências policiais, identificando os principais pontos de incidência dos crimes. Junto com o de São Paulo, um projeto inovador, pioneiro no Brasil, dando a polícia informações precisas de onde e como agir.
Quanto ao contingente de policiais militares, para alguns néscios o ponto principal de uma política de segurança, algumas observações. O Paraná, hoje, tem 546 policiais militares por mil habitantes. São Paulo, o maior e mais rico estado de Federação, tem 433 policiais por mil habitantes. Já Santa Catarina tem 496 policiais por mil habitantes.
A Bahia, a conflagrada Bahia, com 14 milhões de habitantes, tem um contingente de 36,5 mil, logo, cerca de 330 policiais militares por mil habitantes. Proporção de primeiro mundo, não é mesmo? Só que o governo da Bahia, ao que parece, não tem como garantir um bom salário para tropa tão numerosa.
Contingente não é e nunca foi sinônimo de mais segurança. Se esse raciocínio torto for levado a ferro e fogo, precisaríamos de tropas de ocupação tomando conta de cada quarteirão desse país, para garantir a segurança dos brasileiros.
Mais que contingentes, exige-se uma nova concepção de segurança pública, tendo como vértice o policiamento comunitário; exige-se geoprocessamento, mapas do crime, incorporando tudo o que a moderna tecnologia oferece como ferramenta. Exige-se treinamento, especialização, bom armamento; exige-se infra-estrutura adequada de viaturas, aviões, barcos, motocicletas e helicópteros; exige-se uma polícia adequadamente remunerada e absolutamente honesta.
No entanto, acima de tudo, sobretudo exige-se a intervenção do Estado nas áreas urbanas potencialmente sensíveis à atuação dos criminosos, especialmente do narcotráfico.
Quanto a isso, oferecemos à “Veja” dois casos exemplares de intervenção do Estado.
A Vila de Zumbi dos Palmares, no município de Colombo, na periferia de Curitiba, acumulava o maior índice de ocorrências criminais de toda região metropolitana da capital.
Interviemos na Vila. Levamos para lá o Estado e todos os seus serviços. Habitação, escola, posto de saúde, saneamento básico, energia elétrica, esporte e lazer. E a polícia. Em pouco tempo, a Vila exibia ocorrência zero. Foi-se o crime, foram-se os bandidos, impôs-se a maioria de homens e mulheres trabalhadores, de jovens e crianças à busca de oportunidades.
Outro exemplo: o bairro de Guarituba, em Piraquara, também região de Curitiba, uma imensa favela, com 12 mil famílias, plantada em área de risco; um bairro maior que 90 por cento dos municípios paranaenses. De novo a intervenção do Estado e a implantação no local do maior programa de urbanização de favelas e de preservação ambiental em execução no país. Resultado: mais segurança.
Foi o que procuramos fazer no Paraná.
Chegamos à perfeição? Resolvemos todos os problemas de segurança no Paraná? Claro que não. Mas agimos, trabalhamos duro, reduzimos os índices de criminalidade, reestruturamos as polícias, combatemos a corrupção, buscamos, com a polícia comunitária, uma nova filosofia de proteger os cidadãos.
Mas, oh gloriosa revista “Veja”!, uma coisa eu não fiz e quem sabe, por isso, eu tenha o lombo tão castigado pela mídia. Eu não fiz propaganda do que fiz em meu governo. Eu não gastei, como Jaime Lerner gastou, dois bilhões e quinhentos milhões de reais em propaganda. Isso mesmo: DOIS BILHÕES QUINHENTOS MILHÕES DE REAIS EM PROPAGANDA!!!!!
Talvez essa portentosa quantia possa explicar a extrema boa vontade da mídia para com um e a extrema má vontade da mídia para com outro,
Eu ainda pensara em falar de um dos princípios do jornalismo, que aprendi nos bancos da PUC, em Curitiba, o bom princípio que recomenda sejam ouvidos todos os lados que se envolvem na notícia dada.
Não fui ouvido por “Veja”. Meu ex-secretário de Segurança e os ex-comandantes da Polícia Militar e da Polícia Civil, também não foram ouvidos. Sei que a notícia manca, vesga, que elimina o contraditório e impõe sua verdade, é uma patrimônio de “Veja”. Em todo o caso não custava reclamar.”
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