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Ao priorizar a Copa, Dilma ameaça obras no Paraná, diz Amop

Jean Paterno, O Paraná

Embora o governo e os aliados mais fervorosos não admitam, a Copa do Mundo já custa e custará ainda mais caro aos brasileiros. Os bilhões injetados em estádios e em algumas obras de infraestrutura faltam em áreas essenciais e passam a comprometer empreendimentos há muito reivindicados e estratégicos para o futuro do País. “Em função dos equívocos desse governo, obras diversas e por todo o Brasil vão ter que esperar e correm até o risco de não acontecer. Uma delas é o ramal ferroviário entre Cascavel e Maracaju dos Gaúchos (MS)”, diz o presidente da Amop e prefeito de Assis Chateaubriand, Marcel Micheletto (PMDB).

Marcel esteve na semana passada em Brasília para participar da 17ª Marcha organizada pela CNM, a Confederação Nacional dos Municípios. “Lá, ouvi de um importante interlocutor do governo que a única saída, diante da crise que também chega aos cofres da União, é de adormecer algumas obras de grande vulto, entre elas a ferrovia que ligaria o interior do Paraná ao Mato Grosso do Sul”. Embora o governo federal reconheça a importância desse ramal, não há recursos para tirá-la do papel agora. Estimada em cerca de R$ 7 bilhões, ela deveria ter os editais lançados ainda em 2014 com início previsto para o primeiro semestre de 2015.

Inversão

O presidente da Amop entende que situações como essa ocorrem devido à falta de planejamento e à inversão de prioridades do governo do PT. “Se não há dinheiro para a saúde pública, para a educação, para a segurança e para obras que tornem nossos produtos mais competitivos, principalmente no exterior, então também não deveria existir para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas. Primeiro, precisamos contemplar o que é mais urgente e depois, se sobrar, então o país se dedicará a outros projetos e mostrará para o mundo que fez a lição de casa. Infelizmente, nem de longe essa é a realidade do Brasil”, conforme Marcel.

A ferrovia é indispensável para fortalecer uma das regiões de maior produção agrícola brasileira e do mundo. Além de baratear custos, ela viria para retirar parte dos caminhões das estradas, reduzindo assim o número de acidentes e de mortes. Para Marcel Micheletto, tão grave quanto a inversão de prioridades, que valoriza o futebol em detrimento de unidades de saúde, escolas e rodovias melhores, é o fato de o governo federal investir mais de R$ 20 bilhões em grandes empreendimentos no exterior, basicamente em refinarias, que praticamente nada trarão de bom aos brasileiros.

Raspas

Os prefeitos, conforme o presidente da AMP (Associação dos Municípios do Paraná), Luiz Lázaro Sorvos, estão cansados de ficar com as raspas. “As arbitrariedades levam a manifestações poucas vezes vistas na história nacional. As pessoas pedem e merecem hospitais, escolas, estradas e obras de infraestrutura nos padrões da Fifa”, afirma.

Outros problemas graves, conforme Marcel Micheletto, são o desperdício, o superfaturamento e a concentração de grande parte dos recursos públicos nas mãos da União. “Precisamos inverter isso e logo para o bem do País. E o melhor caminho é pela definição de um novo Pacto Federativo, como propõe matéria do deputado federal Alfredo Kaefer”. A PEC 406/2009, do parlamentar tucano, prevê redivisão mais justa do bolo tributário nacional, com o fortalecimento das receitas de estados e municípios. Uma comissão especial foi criada na Câmara Federal na semana passada. Caso tudo corra bem, ela deverá entrar em votação em plenário em breve. “Estamos cansamos de ficar com o pires na mão e receber, em troca, mais obrigações e umas poucas migalhas”, de acordo com Marcel Micheletto.

Além de investimentos, municípios perdem voos

Se fizer bem a alguém, será apenas àqueles que moram em municípios diretamente alcançados pelo mundial de futebol. Essa é a opinião do presidente da Acic, José Torres Sobrinho, sobre a Copa do Mundo que começará em junho. Ao investir R$ 25,6 bilhões em recursos públicos para a estruturação do mundial, a União privou várias regiões de inúmeros investimentos. Além da ameaça à ferrovia entre Cascavel e Maracaju dos Gaúchos, o Oeste perdeu cerca de R$ 130 milhões em emenda que seria investida na segurança da região de fronteira.

O Brasil que ficará distante da Copa, e que terá acesso a ela apenas pela TV, amarga outro problema. Vários municípios de médio porte perdem voos em função da autorização de novas rotas aéreas pela Agência Nacional de Aviação Civil. Cascavel é um dos mais prejudicados. Cinco de seus voos diários foram temporariamente suspensos em função da necessidade de as companhias atenderem “rotas mais rentáveis” durante o mundial.

De acordo com Torres, problemas como esse são uma clara demonstração da falta de preparo, de planejamento e de prioridades do governo. “Não é assim, priorizando um evento esportivo que vai durar apenas um mês, e causando perdas econômicas consideráveis a grande parte do Brasil, que se construirá um país melhor e mais justo a todos. Essa é uma prova de que os governos e os homens públicos precisam avançar muito para entender e atender aos verdadeiros clamores da coletividade”.