Acusado por delatores da Odebrecht de receber R$ 13,5 milhões para defender interesses da empreiteira, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), afirmou que a liberdade e a justiça foram “solapadas por uma teia de acusações que lembra as alcovas da Conjuração Mineira”. As informações são de Carolina Linhares na Folha de S. Paulo.
O governador discursou na cerimônia da Inconfidência, em Ouro Preto, que lembra a morte de Tiradentes em 21 de abril. “Naquele episódio fundante da nossa nacionalidade, Tiradentes foi protagonista involuntário de um espetáculo e não de um processo justo”, disse em meio a aplausos e gritos de “Fora, Temer”.
“As acusações, quando a serviço de estratagemas, morrem. Os acusadores morrem, mas a injustiça contra as vítimas da acusação infundada é incontornável e irreparável. […] Quando uma sociedade se rende aos clamores de vingança, ela se rebaixa e deixa de ser republicana e democrática”, afirmou sem mencionar a Operação Lava Jato.
Pimentel, que foi denunciado na Operação Acrônimo e responde a processo eleitoral, também fez críticas ao Judiciário. “O devido processo penal não pode ser atropelado pela ansiedade de condenar, de execrar, de justiçar. O sistema jurídico perfeito não é aquele que se alimenta de estardalhaços, mas silenciosamente não teme encarar os fatos e as provas, e não apenas as versões, e constrói suas decisões com serenidade e isenção.”
O pedido de investigação de Pimentel com base nas delações da Odebrecht foi enviado para o STJ (Superior Tribunal de Justiça). Na época do suposto pagamento, o governador era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na gestão Dilma Rousseff. Ele afirma que jamais recebeu benefícios ou valores ilícitos da empreiteira.
Pimentel foi o orador da cerimônia que homenageou o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela com o Grande Colar, grau máximo da Medalha da Inconfidência. O ex-presidente Lula chegou a ser convidado para discursar no evento, mas desistiu. Outras 170 personalidades receberam medalhas.
Exaltando a convivência com as diferenças, defendida por Mandela, o governador afirmou que ódio e a intolerância “enredaram o país em uma discórdia sem fim”. Pimentel disse ainda que é preciso “ir adiante na luta pelos direitos dos atingidos pela recessão econômica, pelas tensões sociais e pela fragilização do sistema politico”.
“Falo também das perseguições políticas, religiosas ou raciais, muitas delas respaldadas por processos claramente parciais, onde a violência e o desrespeito se ocultam através de ações espetaculosas nas quais a intenção de justiçamento e não de justiça fica cada dia mais evidente”, completou.
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