Catarina Scortecci
Senador pelo Paraná e presidenciável pelo “PODE” na disputa de outubro, Alvaro Dias cumpria agenda no interior de São Paulo ao longo das oito horas de julgamento do recurso do ex-presidente Lula (PT), em Porto Alegre, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), contra a condenação em primeira instância pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas, apesar da “agenda puxada”, segundo ele, o ex-governador do Paraná se manteve informado sobre o voto do relator, o desembargador federal João Pedro Gebran Neto, considerado “exemplar” pelo parlamentar. Já no início da noite, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Alvaro Dias declarou que o resultado do julgamento, e a possibilidade da prisão, “mostra que o Brasil está empenhando em se tornar uma grande nação, onde a lei é respeitada e igual para todos”. Leia os principais trechos da entrevista:
Como o senhor analisa o julgamento?
Primeiro, é um julgamento emblemático, que sinaliza para a realidade de uma nova justiça no país. Superando até a descrença. Porque é um avanço histórico na direção de uma nova justiça, onde ninguém está acima da lei, mesmo sendo um ex-presidente da República. Claro que pode ter um impacto eleitoral. Mas o mais importante não é a consequência para o processo eleitoral, e sim o fato de ser um marco de um novo rumo para a justiça brasileira, tão desmoralizada, tão desgastada, em função daquele conceito arraigado, de que a justiça só alcançava os pobres, especialmente os negros. E agora alcança os barões da corrupção, os políticos, ex-presidente da República. Isso significa uma mudança histórica no conceito de justiça no Brasil. Isso que é relevante.
Mas o PT fala justamente de desequilíbrio de tratamento da justiça brasileira em relação ao ex-presidente Lula, na comparação inclusive com outros políticos, como o próprio presidente Temer (PMDB), o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que também foram denunciados…
A diferença entre eles é o foro privilegiado. A diferença não é sigla partidária. O que separa uns dos outros é o foro privilegiado. Veja que todos os políticos que perderam o mandato e praticaram corrupção foram para a cadeia. No Rio de Janeiro, três ex-governadores. E não são do PT. O ex-presidente da Câmara dos Deputados [Eduardo Cunha] não é do PT, e foi para a cadeia. Isso está nítido. Os que não foram julgados não foram ainda em razão do foro privilegiado. Então para que se consagre realmente uma nova justiça no país é preciso acabar com o foro privilegiado. É o próximo passo.
Agora, o PT também dizia que não havia provas [contra o ex-presidente Lula]. E isso foi cabalmente desmoralizado no dia de hoje. Porque o relator [no TRF4, desembargador federal João Pedro Gebran Neto] analisou prova a prova, e concluiu que são provas seguras, que garantem a correção da decisão do juiz Moro. Tanto que houve um agravamento da pena. Então, essa encenação, própria de animadores de auditório, essa mistificação de fatos, essa tentativa de escamotear a verdade, cai por terra, a partir do exemplar voto do relator, acompanhado pelos outros dois [desembargadores federais da 8ª Turma do TRF4, Leandro Paulsen e Victor Luiz dos Santos Laus].
Agora, considerando pesquisas de 2017, o ex-presidente Lula aparece em primeiro lugar…
É aí que eu discordo de vocês da imprensa. A análise que eu faço da pesquisa é exatamente o oposto. Eu acho que o Lula é inviável eleitoralmente. Porque ele tem uma rejeição que engole a intenção de votos dele. Ele tem uma rejeição que ultrapassa 50%. A manchete, então, deveria ser “Lula inviabilizado eleitoralmente pela rejeição elevada”. E vocês todos estão dizendo que ele é o favorito! Eu acho que isso é uma ofensa à maioria decente do Brasil, que jamais votaria em um chefe de organização criminosa. Está faltando uma análise correta das pesquisas.
Mas o senhor concorda que em pesquisas [de 2017] há um número significativo de eleitores que informam votar nele?
Uma parcela minoritária e insuficiente para levar alguém à vitória. Por isso eu insisto: a análise está distorcida. Lula é inviável eleitoralmente. Ele não seria eleito se fosse candidato.
O senhor, como pré-candidato a presidente da República, acha que ele deveria participar do processo eleitoral?
Acho que não importa a quem interessa a presença dele ou a ausência dele no processo eleitoral. O que importa é o cumprimento da lei. Vamos esquecer se ele tem voto, se ele não tem voto, quem ganha ou quem perde com a ausência dele. Quem tem que ganhar é o estado de Direito. É uma afronta ao estado de Direito um condenado à prisão disputar a eleição. Que país é esse? Um condenado à prisão com provas cabais, com recurso negado, disputar a eleição? Seria a negação do estado de direito.
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