Dia da Água pede reflexão sobre meios de proteção e de acesso à água entre todas as pessoas
por Paulo Bogler, no Boletim Guatá
No princípio, era a água. Líquido que irriga o mundo, alimenta a vida e faz fluir o gênero criativo que determina a condição humana. A sede do homem é a origem de tudo. Desde os primeiros movimentos dados pelas espécies primitivas, nessa longa marcha de evolução, até os dias atuais, a água é fator de vida e de morte, de fartura e de carência, de paz e de guerra.
Hoje, um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e três bilhões de indivíduos sequer dispõem de banheiros, dizem as estatísticas apresentadas durante o Fórum Mundial Alternativo da Água, realizado na França, paralelamente ao encontro oficial dos países em torno do Fórum Mundial da Água (FMA). Segundo alguns pesquisadores, desde a década de 1950 até o ano de 2025, haverá uma redução em torno de 70% na quantidade de reserva de água disponível por habitante, em todo o mundo.
E mais: pela falta de água própria para o uso humano, 2.500 pessoas morrem todos os dias, sendo que a metade desse contingente é de crianças. Este líquido fundamental já pavimenta novos contornos da desigualdade e da exclusão. A totalidade de habitantes da cidade americana de Nova Iorque, por exemplo, conta com água potável em suas residências, diariamente. Já nos países em desenvolvimento, este índice cai para 44% e estaciona em 16% nos países da África Subsaariana. Dito de outra forma, em vários cenários, os ricos têm acesso abundante à água, enquanto que os pobres penam com a escassez e até mesmo com a total falta dela.
Neste cenário, a água passa ser vista pelas lentes dos mercados como um produto lucrativo, em detrimento de seu valor social e de sua condição vital para a manutenção da vida. Cresce o interesse de empresas e de governos pelo domínio e manipulação das reservas da água.
Além do risco eminente de se aumentar o fosso de desigualdade quanto ao seu acesso, a água poderá ser motivo de guerras entre países e povos e de êxodo de muito grupos humanos.
No âmbito das comemorações, fóruns e reflexões em torno do Dia Mundial da Água, é preciso reafirmar que este recurso deve ser tema de políticas públicas e de ações políticas que a entendam com um bem e como um patrimônio de toda a humanidade, contrariamente às intenções de se monopolizar a água nas mãos de poucos e nas intenções de transformá-lo em mercadoria e lucro.
Mais ainda, a água deve ser colocada no centro dos debates culturais e de modelos societários que questionem o atual padrão de desenvolvimento. Para nutrir a sede de um ser humano, diz a Organização das Nações Unidas (ONU), são necessários de 2 a 4 litros de água por dia, enquanto que para se produzir 1 kg de carne são necessários 15 mil litros de água, por exemplo. Assim, a preservação da água está ligada a novos padrões de consumo e à produção racional de alimentos, onde a sustentabilidade e segurança alimentar devem ser o centro das preocupações.
ÁGUA EM ABUNDÂNCIA – O Aquífero Guarani é a maior reserva de água potável do mundo, situado no subsolo dos países sul-americanos do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, distribuído por uma área de cerca de 1.196.500 km2. A maior parte desse sistema hídrico passa por áreas brasileiras, percorrendo oito estados, sendo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Santa Catarina.
Apesar de toda essa riqueza, os países do Mercosul ainda não conseguiram avançar em uma agenda de gestão de proteção e de uso dos recurso do Aquífero Guarani. Alguns estudiosos acreditam que boa parte destas águas já estejam contaminadas, devido ao uso intensivo de produtos químicos empregados na agricultura e pelo comprometimento da qualidade dos rios.
O Aquífero Guarani é alvo de grandes empresas e de governos de países ricos, que defendem projetos de internacionalização ou de uso econômico deste bem subterrâneo.
DIA DA ÁGUA – O Dia Mundial da Água é celebrado todos os anos, no dia 22 de março. A data foi criada para ser um momento de reflexão, debate, conscientização e elaboração de medidas práticas para a conservação dos recursos hídricos.A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (Eco-92) recomendou a criação de um dia internacional para celebrar a água. No ano seguinte, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), declarou que o dia 22 de março de cada ano marcaria a data.
Com a instituição do Dia Mundial da Água, os países foram convidados a aderir às recomendações da ONU relativas aos recursos hídricos e a concretizar atividades apropriadas ao contexto e à realidade de cada país.
FESTA DAS ÁGUAS – Em Foz do Iguaçu, o Dia Mundial da Água será comemorado nas Cataratas do Iguaçu, através de uma ação de conscientização sobre o valor da água elaborada por um coletivo local de entidades ligadas à educação ambiental.
Uma das mais belas e fascinantes paisagens naturais do Planeta, as Cataratas do Iguaçu são formadas por um conjunto de saltos. A beleza é proporcionada pela água que corre através do leito do rio Iguaçu. A vazão média das águas atinge cerca de 1500 m3 por segundo, chegando a atingir 8.500 m3 nos períodos de cheia.
Nas Cataratas do Iguaçu, a programação do Dia Mundial da Água será entre as 09:30 e 11:30 horas, contando com atividades de sensibilização, e gravação de um vídeo, a ser apresentado na Rio+20, no Rio de Janeiro.
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