Quando se fala em exportação de produtos do agronegócio paranaense, a imagem mais óbvia é a dos navios cargueiros no Porto de Paranaguá ou da frota de caminhões que corta as estradas do país. Mas, não é só por água e terra que são escoadas as riquezas rurais paranaenses. Nas asas de aviões, alguns produtos têm deixado o Paraná via terminais aéreos para gerar oportunidades de negócios com alto rendimento. Um mercado milionário que pode representar ganhos interessantes, desde que com um arranjo logístico bem afinado.
Em setembro deste ano, uma oportunidade assim surgiu no Oeste do Paraná. A cooperativa Copacol, com sede em Cafelândia, começou a enviar filés frescos de tilápia para os Estados Unidos. Toda terça-feira, o peixe deixa o Estado para desembarcar em Miami em apenas 48 horas, com uma operação de transporte com a precisão de relógio suíço (veja o infográfico ao fim da matéria). A experiência tem sido um sucesso, tanto que a empresa já planeja dobrar as remessas, para duas vezes por semana.
“Estamos ganhando o mundo, procurando espaço para novos negócios”, comemora Valter Pitol, presidente da Copacol, que, em 2019, produziu 42 mil toneladas de tilápia (quase 30% da produção do Paraná). O dirigente lembra que foram mais de dois anos de trabalho para cumprir todos os trâmites burocráticos e adaptações necessárias ao envio do peixe ao exterior por via aérea. “Começamos devagar, com 700 quilos de tilápia por semana. A ideia é experimentar esse mercado e, conforme o andamento, ampliar aos poucos”, prevê.
Segundo o superintendente comercial da Copacol, Valdemir Paulino dos Santos, a oportunidade de mandar peixe fresco de avião estava no radar da empresa havia pelo menos um ano. A ideia apareceu durante a participação em feiras internacionais de alimentos. “Começamos a mapear essas oportunidades, contatamos possíveis clientes distribuidores nos Estados Unidos e, com a desvalorização da nossa moeda em relação ao dólar, nesse ano, ficou mais atrativo”, aponta Santos.
O que pesa contra o filé de tilápia do Oeste do Paraná é a concorrência, segundo Santos. Países da América Central também produzem o peixe e estão mais próximos do mercado norte-americano, com facilidade na logística. A aposta do Paraná é na qualidade do produto, com a entrega de um filé personalizado ao gosto americano. “É preciso uma tilápia mais pesada para gerar esse filé 20% maior do que o destinado ao mercado doméstico”, revela o superintendente.
Sobre a possibilidade de ampliar os destinos do peixe paranaense levado pelos ares, Santos é cauteloso. A empresa até mapeou outros prováveis mercados consumidores, mas, por enquanto, isso é apenas sondagem, pois exige novas parcerias com distribuidores e um aumento substancial de volume de produção. “Por ora, o foco é Miami, até porque temos espaço para crescer nesse destino e está no início essa operação. E temos também a questão do câmbio, que é determinante nesse tipo de negócio”, enumera.
Não apenas peixe
O envio de produtos do agronegócio pelo Brasil via aérea já é uma realidade que movimenta mais de US$ 503,7 milhões por ano. De acordo com o técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Luiz Eliezer Ferreira, os produtos com viabilidade para serem transportados de avião para o exterior têm alto valor agregado e representam oportunidades interessantes aos produtores.
“Explorar esse nicho é fundamental para o agro paranaense, uma vez que os nossos produtos têm uma qualidade internacional reconhecida, o que abre espaço em mercados com alto valor agregado, como no caso de lácteos especiais, hortaliças com certificado de origem, cafés gourmet, entre outros. Essa via aérea representa um tremendo encurtamento logístico e o modal tem mostrado viabilidades econômica e técnica para sua efetivação”, comenta Ferreira.
Sistema Faep
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