Afinal, o que quer essa mulher?
Por Gilson Caroni Filho
Afinal, o que querem as mulheres? A indagação atribuída ao pai da psicanálise, Sigmund Freud, parece passar por uma atualização perversa quando a deslocamos do contexto em que teria sido formulada originalmente para o nebuloso campo da política brasileira, precisamente quando observamos o que tem dito a candidata á Presidência da República, Heloísa Helena (PSOL-AL) ao tentar produzir sua significação. Por sua prática discursiva, faz todo sentido perguntar: afinal, o que quer essa mulher?
Apresentada como alternativa de esquerda a uma suposta polarização falsa, a senadora se desloca com velocidade espantosa da condição de “fenômeno” para uma caracterização que beira o ridículo. Presta, sem pestanejar, dois desserviços: à luta das mulheres brasileiras por uma inserção ativa no espaço público e à crença de que trariam um aporte diferenciado à esfera política. Sai fortalecido um imaginário que julga ser possível reduzir o gênero feminino a um jogo cego de pulsões.
Quando diz que uma eventual vitória em primeiro turno do presidente Lula poderia trazer conseqüências negativas para a democracia, Heloísa alega que "seria a vitória do parasitismo político, de mensaleiros, sanguessugas e outras formas mais degeneradas de apropriação do aparelho partidário por uma gangue partidária". Nesse ponto, o que a diferencia, em termos argumentativos, de um Bornhausen ou mesmo de um Jair Bolsonaro? Ou será que há lugar para ambos no socialismo figadal da senadora alagoana? Afinal, o que quer essa mulher?
Ao afirmar que se tiver a honra de chegar ao Palácio do Planalto, nem Chávez, nem Bush mandarão no seu governo, para que moinhos a candidata do PSOL leva sua água? Para uma esquerda que pretende manter a política externa como expressão de soberania e integração solidária na América Latina ou para a inserção subalterna pretendida pelos tucanos? Com tanta ambigüidade e dissimulação, cabe novamente a pergunta. Afinal, o que quer essa mulher?
E quando assegura, em sabatina promovida pela Folha de São Paulo, que não dormiu com o " cara"( o ex-senador Luiz Estevão), enfatizando que " não durmo com homem rico e ordinário, eu vomito em cima", que estratégia se pode vislumbrar? Um socialismo escatológico que almeja seduzir a classe média com fantasias bizarras? A luta de classes reposicionada no libidinoso terreno dos fetiches? É dessa forma que sua candidatura cumpre a promessa de ressaltar as virtudes da mulher brasileira?
Na reta final da campanha, a pergunta recorrente parece encontrar uma resposta bem mais simplória do que imaginávamos no início. Afinal, o que quer essa mulher? Simplesmente aparecer. É humano, mas é muito pouco. E para a democracia brasileira, um episódio que deve ser esquecido.
Gilson Caroni Filho é professor de sociologia da Facha (RJ). Colabora com o JB, Observatório da Imprensa e La Insignia.
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