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‘Acho bom que políticos possam ir para a cadeia’, diz Wagner Moura

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Mônica Bergamo, Folha de S.Paulo

Prestes a estrear a série “Narcos”, da Netflix, em que interpreta o traficante colombiano Pablo Escobar, o ator Wagner Moura já toca seu próximo projeto: dirigir um filme sobre o guerrilheiro Carlos Marighella. Ele conversou com a coluna sobre o longa nos bastidores de uma gravação para o programa “Calada Noite”, do GNT, apresentado por Sarah Oliveira.

Folha – Como surgiu seu interesse em fazer o filme?
Wagner Moura – Sempre tive interesse pelos anos 1960 e 1970 e, especificamente, sobre a ditadura militar. É uma época muito recente e próxima da minha geração e sobre a qual se fala pouco. A gente cresceu anestesiado politicamente. Existe uma diferença entre os jovens daquela época e os de agora, dos anos 1990 e 2000. O filme é uma vontade minha de entender um pedaço da história sobre o qual sabemos pouco do ponto de vista humano.

Os jovens de hoje têm uma politização diferente, bem menos utópica e mais pragmática.
Quando eu era garoto, teve o movimento dos caras-pintadas, que foi um híbrido de revolta política com um oba-oba. A geração de hoje é mais politizada que a minha. Não entendo muito esses meninos, mas acho foda e admiro que haja esse movimento.

O ex-ministro José Dirceu foi uma figura-chave no período da ditadura. O que acha do envolvimento dele primeiro no mensalão e agora na Lava Jato?
A gente sempre viveu achando que no Brasil quem tinha poder não ia para a cadeia. Nesse sentido, a prisão dos empreiteiros e dos políticos relacionadas ao mensalão e à Lava Jato é simbolicamente muito importante para um país que tem a impunidade em seu cerne. Apesar de eu não conseguir entender a “reprisão” do Dirceu pelo aspecto jurídico. Ele já não estava preso? Me parece um negócio estranho, mas acho bom que figuras importantes da política possam ir para a cadeia. É um exemplo positivo para o povo brasileiro.

Como está o projeto do filme?
Estamos captando recursos e a ideia é filmar no ano que vem, quando o roteiro estiver bem definido. E é um roteiro complexo. É algo que eu também senti ao fazer o “Narcos”, na Colômbia. Tem um limite ético quando você trata da vida de pessoas que existem ou existiram e ao mesmo tempo você está fazendo uma obra de ficção. Exige um cuidado.