FOLHA DE SÃO PAULO/ELIANE CANTANHÊDE
Conformismo. Essa é a palavra que melhor define a reação dos militares à composição da Comissão da Verdade, que eles tanto rejeitam. Perdidos os anéis, vão tentar salvar os dedos: a Lei da Anistia.
Os sete escolhidos por Dilma pessoalmente, quase solitariamente, têm destaque na carreira e densas histórias de vida. Gente de peso.
São ex-advogados de presos políticos, como José Carlos Dias e Rosa Maria Cunha, militantes de Direitos Humanos, como Paulo Sérgio Pinheiro e Maria Rita Kehl, e juristas de ponta, como Gilson Dibb, Cláudio Fontelles e José Paulo Cavalcanti Filho. Parciais? Sim, sem dúvida.Todos têm lado -o mesmo lado, apesar de uns mais tucanos, outros mais petistas- e posições claras e bem conhecidas. Mas não há ali xiitas, nem juvenis, e nenhum está tecnicamente impedido pela lei que criou a comissão. Não há torturados ou parentes de desaparecidos.
Perdida mais essa guerra, os militares agora alimentam uma dúvida (ou seria certeza?): para que vai servir mesmo a Comissão da Verdade? Eles estão convencidos de que as histórias de torturas, mortes e desaparecimentos já são amplamente conhecidas. Tanto quanto as vítimas e os próprios algozes.
Logo, desconfiam, ou sabem, que a comissão é a cortina de fumaça para produzir ações penais contra os agentes do Estado que exorbitaram durante a ditadura. Ou seja, contra os militares da época.
Será, simultaneamente, o canal para catequizar a população para a tese de que, mais de 30 anos depois, já passou da hora de revogar a Lei da Anistia para processar e punir torturadores. Até porque tortura é crime imprescritível.
Uns com raiva, outros com melancolia, esses militares alegam que todas as verdades sempre têm dois ou mais lados. Mas, na história, quem ri por último ri melhor e a verdade é sempre a do vencedor.
No caso, de quem subiu a rampa do Planalto pela força do voto.
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