Quem precisa usar o transporte coletivo em Curitiba diariamente, sabe das dificuldades. Ônibus lotados, longa espera, sistema ultrapassado. Greves, paralisações, motoristas, cobradores e usuários insatisfeitos. Nos últimos seis meses, foram aproximadamente 10 paralisações do transporte na cidade. As informações são da Massa News.
Mas, como um sistema de transporte público que no passado já foi considerado modelo, chegou a atual situação? A resposta, de acordo com especialistas no assunto, é simples, “falta de investimento e de gestão”. Mas, para chegar até a razão do problema, é preciso entender como funciona o todo do sistema. De acordo com o diretor executivo das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Luiz Alberto Lens Cesar, o principal apontamento em relação ao caso, é o não cumprimento do contrato de prestação do serviço. “Começa por aí, pois gera déficit de valores, que gera incapacidade de investimentos, que leva a falta de modernização do sistema”, comenta.
Para ele, é importante deixar claro, que a intenção das empresas nunca foi e não é de aumentar a tarifa para o usuário, mas é importante que todos entendam que o sistema está funcionando no vermelho. “Existe um custo de manutenção do sistema, em que é levado em consideração uma planilha com valores de combustível, de folha de pagamento, enfim, em que é formada a chamada tarifa técnica”, diz. “A tarifa técnica engloba todo o custo, e a nossa, neste momento, é de R$ 3,66”, acrescenta.
Ele lembra que em Curitiba acontece algo no mínimo incomum: a tarifa paga pelo usuário, de R$ 3,70, é maior que a tarifa repassada às empresas, de R$ 3,66. “Sem contar que existem ainda os prejuízos gerados, por exemplo, pelos fura-catracas, que geram prejuízo aproximado de R$ 4,5 milhões por ano, valor que seria suficiente para comprar quatro ônibus biarticulados”, relata.
Ainda falando sobre a tarifa técnica, um bom exemplo é o sistema de São Paulo. Por lá, a tarifa técnica custa R$ 5,71 e a tarifa do usuário é de R$ 3,80. A diferença, ou seja, R$ 1,91, é subsidiada pela Administração Pública.
“Aqui, nós não temos subsídio algum do poder público, a Prefeitura não repassa valores para o transporte”, afirma. “Por aí é fácil entender que a conta não fecha”.
Outro ponto apontado por ele, é que todos os anos, o poder público faz uma previsão de utilização do transporte por mês. Esta previsão serve, entre outras coisas, para calcular a tarifa técnica. Acontece que, de acordo com Cesar, a previsão é sempre para menos. “Desde 2010 que a estimativa não bate. Em 2015, por exemplo, a projeção foi de 18,8 milhões de usuários por mês e no fim das contas, fechou em 17,2 milhões de usuários ao mês”, disse. “O déficit é de 1,6 milhões/mês, que é muita coisa, que acaba fazendo muita diferença”.
Cesar ainda destacou, que sem investimentos é impossível tornar o serviço efetivo. “Quem sofre com toda a situação é a população”.
“Gestão incompetente”
O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Paraná e Santa Catarina (Fepasc), Felipe Gulin, vai além na análise do problema e aponta que o sistema está no pé em que está, por conta de “gestão incompetente”. “Como passamos de um modelo que serviu de espelho para muitas outras cidades e até países, para um sistema ultrapassado e falho? Falta de gestão competente. Hoje a administração é mais política do que técnica e falta de vontade política de resolver o problema”, afirma.
Para ele, o transporte coletivo impacta diretamente na economia de uma cidade. Quando ocorrem as greves e paralisações, o prejuízo se estende ao comércio, às indústrias.
“Todos são afetados. O usuário, principalmente, mas o comerciante deixa de vender, a indústria de produzir”, fala.
Gulin destaca, que a solução para o problema existe e seria, segundo ele, relativamente fácil. “Em qualquer setor, os problemas específicos que são tratados com medidas paliativas, a solução fica prejudicada. O que vemos é uma má qualidade de gestão, uma postura bastante incoerente, sem estratégia, irresponsável com o transporte”, afirma. “Quando a questão deixar de ser tratada como política e passar a ser vista como técnica, a solução virá”, complementa.
Vale explicar, que a Prefeitura tem a prerrogativa de não subsidiar o transporte coletivo. No entanto, como o sistema impacta na economia, seria interessante que a população pudesse contar com essa contrapartida. Gulin destacou, que recentemente, o transporte público foi incluído na legislação como direito básico para a população, como são a educação e a saúde. “É uma necessidade básica, e deve ser tratada com respeito pelo Poder Público”, finaliza.
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