O mínimo que o Supremo Tribunal Federal deveria fazer seria anular, no todo ou em parte, os benefícios concedidos aos executivos do Grupo JBS em troca de sua delação. O mínimo.
O máximo seria mandar prendê-los por tentativa de obstrução de Justiça. Sim, porque foi isso o que fizeram a levar-se em conta o teor da conversa bêbada travada por dois deles.
O Procurador-Geral da República Rodrigo Janot ficou mal na foto. Ao que tudo indica, seu homem de confiança, Marcelo Miller, funcionou ao mesmo tempo como procurador e advogado da JBS.
Para surpresa de Janot e dos demais colegas, largou depois o cargo repentinamente para tornar-se sócio do escritório de advocacia responsável pela defesa dos delatores.
Fez a festa dos políticos envolvidos com a Lava Jato, mas não só. Eles estão prontos para arguir a suspeição de tudo que possa comprometê-los e que tenha passado pelo crivo de Miller.
Na melhor das hipóteses, Janot deixará a Procuradoria com cara de bobo por ignorar o que se passava aos seus olhos. Na pior, de relapso por ter aprovado às pressas a delação posta agora na berlinda.
O clima na Procuradoria é de consternação. Sua imagem sofreu dano irreparável. No Supremo Tribunal Federal (STF), o clima é de indignação com Janot e com o que ele disse na última segunda-feira.
Sem revelar detalhes, Janot disse que o aúdio da conversa bêbada conteria indícios de “atos ilícitos” praticados no STF e na Procuradoria-Geral da República.
De fato, o áudio não relaciona nenhum dos três ministros do STF citados a qualquer irregularidade ou ato ilícito. Por que Janot afirmou o que estava farto de saber que não era verdade?
Os três ministros citados são Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Os delatores embriagados nada dizem que possam comprometê-los. Nada mesmo.
Janot se despede do cargo de maneira melancólica. E deixa em risco o que tanto fez questão de preservar – o combate à corrupção e o respeito à lei acima de qualquer coisa.
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