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A quem interessa desacreditar o projeto da Unila?

Gilmar Piolla

Nas últimas semanas, o projeto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana – Unila, uma das maiores conquistas dos 98 anos de Foz do Iguaçu, tem sido alvo de uma orquestração tramada por politiqueiros e oportunistas para desacreditá-lo.

Incidentes isolados, envolvendo alguns alunos, serviram de pretexto para uma campanha sistemática contra a instituição. Busca-se, desta forma, jogar a opinião pública iguaçuense contra um projeto que já está trazendo muitos benefícios para a nossa cidade e região.

Esta é a agenda dos que nada constroem e não têm nenhum compromisso com o futuro que queremos para Foz do Iguaçu. É preciso ter uma visão míope e obscurantista para não reconhecer o ganho extraordinário que significa para uma cidade como Foz do Iguaçu abrigar uma universidade pública do porte da Unila.Não há uma cidade brasileira, excluindo as capitais, que tenha prosperado e alcançado status de polo regional sem a presença de uma forte instituição universitária.

Santa Maria e Pelotas, no Rio Grande do Sul; Viçosa e Ouro Preto, em Minas Gerais; Campinas e São Carlos, em São Paulo; Maringá e Londrina, no Paraná; são belos exemplos de cidades que alcançaram, nas últimas décadas, um invejável nível de desenvolvimento, devido, em grande parte, à presença de conceituadas universidades públicas, federais e estaduais.

Ter sido escolhida pelo ex-presidente Lula como sede da Unila, um projeto único e inovador, foi o maior presente que Foz do Iguaçu poderia desejar na década do seu centenário.

Aqueles que torcem pelo insucesso do projeto e que comemoram cada notícia negativa sobre a instituição veiculada pela mídia (uso irregular de veículo, morte de um aluno, greve de professores, detenção de estudantes, entre outras), estão cometendo um gravíssimo equívoco, pois trabalham ativamente contra o desenvolvimento da cidade.

Depois da construção de Itaipu, nenhum outro projeto trouxe maiores investimentos para a região Oeste do Paraná. É hora de tomar uma posição pública em defesa da Unila e denunciar os que conspiram para desacreditá-la.

Não se trata, aqui, de concordar com a gestão do atual reitor nem de tomar partido nas disputas internas, que devem ser resolvidas democraticamente pela comunidade universitária, no pleno exercício da sua autonomia, assegurada pela Constituição Federal.

Acredito, no entanto, que o Professor Hélgio Trindade, com a sua experiência, saberá conduzir a instituição neste momento difícil. Está na hora da Unila se integrar mais à cidade e a cidade à Unila, para que ambas se percebam e se reconheçam como parceiras indissociáveis deste projeto de futuro que estamos construindo.

Tudo começou – ou se agravou? – a partir de um lamentável incidente ocorrido na madrugada do último dia 3 de junho, quando uma intervenção da Polícia Militar (PM), que tinha como objetivo declarado coibir supostos excessos, durante uma festa promovida pelos alunos que moram no Hotel Passaporte, descambou numa ação desastrada na qual sobraram cenas de violência.

É profundamente lamentável que este episódio isolado esteja sendo usado para insuflar os ânimos e criar um clima de revanchismo e retaliação. A Unila agiu de forma correta ao solicitar à Corregedoria da PM a abertura de um processo de apuração do incidente.

Afinal, estaria abrindo um precedente perigosíssimo se, por omissão ou covardia, a instituição deixasse de denunciar o que considerou “os excessos cometidos pelos policiais militares no exercício de suas funções”.

No entanto, a reputação da PM de Foz do Iguaçu não pode ser maculada pelos eventuais abusos cometidos por alguns membros da corporação, da mesma forma que a Unila não pode ser vilipendiada pelo comportamento desviante de alguns poucos alunos que ainda não se conscientizaram do privilégio que têm de estudar numa instituição pública e gratuita, que proporciona inúmeros benefícios que não estão ao alcance da maioria dos estudantes brasileiros que freqüentam universidades públicas.

Por isso, esperamos que o incidente sirva para estimular um salutar diálogo entre as duas instituições públicas que, com funções distintas, devem prestar contas à sociedade, a quem devem servir.

Tanto a Unila quanto a PM são instituições públicas e como tais devem primar pela transparência, apurando eventuais desvios de conduta dos seus membros, de acordo com os procedimentos administrativos e legais disponíveis.

Mas não podemos nos calar diante da exploração inescrupulosa que alguns segmentos da mídia sensacionalista vêm fazendo deste episódio para atacar a Unila, colocando em risco os membros da comunidade, sobretudo os estudantes, que passaram a ser alvo de vigilância e assédio policial.

Quisera Deus que os problemas de segurança pública da nossa fronteira se resumissem aos “excessos” de alguns estudantes universitários!

O respeitadíssimo jornalista Aluizo Palmar, valoroso defensor dos direitos humanos, manifestou a sua perplexidade diante do que está acontecendo nos seguintes termos: “Não entendo. Fizeram onda danada sobre Foz do Iguaçu passar a ser um polo universitário e depois de instaladas duas universidades federais na cidade, surge essa onda danada contra os estudantes. É o supra-sumo do atraso. Ouro Preto convive em harmonia com os estudantes, suas repúblicas e festas estudantis. Essa xenofobia faz mal para a cidade. Nossa Foz do Iguaçu passa uma imagem de intolerância”.

Faço minhas as suas sábias palavras. Ninguém está defendendo que se dê aos estudantes, sejam da Unila ou de qualquer outra instituição de ensino, salvo-conduto para praticar atos antissociais e cometes ilícitos penais. Afinal, a função primordial de qualquer instituição de ensino que se preze é formar cidadãos, conscientes dos seus direitos e das suas obrigações.

Mas é preciso ter um olhar generoso, tolerante e acolhedor para com os milhares de estudantes de todas as regiões brasileiras e de um crescente número de países latino-americanos que estão chegando todos os anos para estudar na Unila e em outras boas instituições universitárias de Foz do Iguaçu.

Eles devem sentir-se acolhidos e bem-vindos. Afinal, sempre nos orgulhamos de fazer parte de uma comunidade multicultural, multiétnica e multirreligosa, que respeita as diferenças e valoriza a diversidade.

Esta é a nossa principal riqueza e um valor do qual não abrimos mão. Xô preconceito! Xô xenofobia! Queremos ser o centro da integração latino-americana! A Unila é parte deste projeto maior! Por isso, merece ser defendida e apoiada para que venha a realizar a utopia que lhe deu origem.

Gilmar Piolla é jornalista.