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A política nas redes sociais

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Editorial, Estadão

Uma pesquisa feita pelo Pew Research Center indica que o debate político nas redes sociais mobiliza paixões, mas, na prática, resulta em quase nenhum entendimento, porque o ambiente virtual convida ao confronto irracional e à manutenção irredutível de opiniões – o que é a negação da política. Esse estudo tem o mérito de evidenciar que o melhor da política, entendida como a atividade por meio da qual se convence o outro a aderir a determinado ponto de vista, se manifesta em sua plenitude principalmente no contato pessoal, olho no olho, situação em que os argumentos tendem a prevalecer sobre os punhos.

A pesquisa em questão foi feita nos Estados Unidos, mas pode-se presumir que seus resultados sirvam para o cenário brasileiro, especialmente porque destaca “a generalizada polarização e a animosidade partidária” entre os americanos – situação que hoje se vive aqui no Brasil, provocada principalmente pelos partidários da tese esdrúxula de que está em curso uma perseguição ao PT.

Lá como cá, qualquer discussão política nas redes sociais rapidamente degringola para a pura e simples troca de ofensas, e não é incomum que amigos rompam relacionamentos de longa data em razão da defesa extremamente agressiva de posições partidárias conflitantes.

De acordo com o Pew, 59% dos entrevistados disseram que as interações com quem sustenta pontos de vista divergentes nas redes sociais costumam ser “estressantes” – porque envolvem linguagem ofensiva e porque, muitas vezes, representam a possibilidade de ruptura com pessoas conhecidas – e “frustrantes” – uma vez que o outro lado não apresenta nenhuma disposição de ceder e não se extrai da conversa nada que se possa considerar aceitável para reflexão.

O levantamento mostra que 53% dos entrevistados consideram que as discussões políticas nas redes sociais são menos respeitosas do que em outras circunstâncias, e 51% entendem que são inúteis para se chegar a alguma resolução. Para 84%, as pessoas dizem nas redes sociais coisas que provavelmente não diriam numa discussão política travada numa conversa pessoal.

Para não perder os amigos por conta das paixões políticas, 83% dos usuários das redes sociais dizem que, quando conhecidos postam comentários políticos dos quais discordam, preferem ignorá-los a alimentar uma discussão que, no mais das vezes, resulta em tensão. Desses, 39% disseram usar as ferramentas das redes sociais para restringir esses comentários ou, no limite, bloquear os amigos que, em sua visão, estão sendo ofensivos.

Apesar disso, um em cada cinco entrevistados que revelaram maior gosto pelo envolvimento político disse interagir nas redes sociais para defender seus pontos de vista, e um terço deles entende que a internet possibilita a inclusão de novas vozes no debate e estimula as pessoas a se interessar pela discussão de temas que lhes dizem respeito. Para 54% dos entrevistados, as redes permitem, por exemplo, que os eleitores conheçam ao menos de modo razoável quem são os candidatos e o que eles realmente representam.

Ademais, 20% disseram que passaram a ter outra visão política acerca de determinado tema em razão do que leram nas redes sociais, e 17% afirmaram que mudaram de opinião sobre algum candidato pelo mesmo motivo.

Logo, não se trata de descartar as redes sociais como lugar para o debate político, pois é evidente que, especialmente entre os mais jovens, a interação virtual tornou-se a principal forma de comunicação – e por essa razão ainda será considerado um legítimo ambiente de confronto de ideias. No entanto, conforme indicam os resultados da pesquisa, por ora o que se tem não pode ser classificado de debate, mas de guerra.

As redes sociais, quer seja por meio dos usuários comuns, quer por intermédio dos chamados “guerrilheiros virtuais” a soldo de partidos, infelizmente converteram-se num campo de batalha em que a verdade e a razão são as grandes baixas.