por Josias de Souza
Num telefonema de 13 de maio de 2011, o pós-bicheiro Carlinhos Cachoeira pediu ao pré-ético Demóstenes Torres para “não esquecer” de uma solicitação especial que lhe havia feito.
“É importantíssimo prá mim”, diz o contraventor. “Você consegue pôr ela lá com Aécio… em Uberaba, pô, a mãe dela morreu. É irmã da minha mãe.” E o senador: “Tranquilo. Deixa eu só ligar pro rapaz lá. Deixa eu ligar prá ele.”
Captado pelo Guardião, o sistema de grampos da Polícia Federal, e trazido à luz pelo repórter Fausto Macedo, o diálogo se refere Mônica Beatriz Silva Vieira, uma prima de Cachoeira.
Doze dias e sete telefonemas depois da conversa de Cachoeira com Demóstenes, Mônica foi empossada no cargo de Diretora Regional da Secretaria de Estado de Assistência Social em Uberaba.
Deve-se a nomeação à interferência de Aécio Neves (PSDB-MG). A voz do senador tucano não soa na escuta. Estava grampeado apenas o aparelho de Cachoeira, não o de Demóstenes.
Assim, Aécio (foto) livrou-se do constrangimento de ver registrados nas páginas do inquérito da Operação Monte Carlo os termos dos diálogos que manteve com o amigo que fez do mandato uma tribuna para o lobby de Cachoeira.
Não foi poupado, porém, de uma avaliação da Polícia Federal sobre os resultados da atenção dispensada ao “importantíssimo” pedido de Cachoeira. Para os investigadores, há “indícios de possível cometimento de infração penal por parte de seus interlocutores ou pessoas referidas” nos telefonemas.
Ao resumir um gampo de 26 de maio de 2011, no qual Cachoeira conversa com a prima um dia depois de sua posse no novo cargo, a PF anotou em relatório: “Falam sobre a nomeação de Mônica para a SEDESE/MG, conseguida por Cachoeira junto ao senador Aécio Neves por intermédio do senador Demóstenes Torres e de Danilo de Castro.”
Danilo de Castro é deputado federal por Minas Gerais e secretário-geral do PSDB federal. Licenciou-se do mandato na Câmara para assumir a Secretaria de Governo da gestão tucana de Antonio Anastasia. Ouvidos, secretário e governador negaram participação na nomeação da prima de Cachoeira.
Procurado, Aécio reconheceu que se empenhou para atender ao pedido de Demóstenes. Alega, porém, que desconhecia que Cachoeira estava por trás da encomenda de nomeação. Agora que já sabe, Aécio talvez devesse requerer, com o mesmo empenho, a demissão da servidora tóxica.
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