Os depoimentos ao juiz Sérgio Moro, ontem em Curitiba, de João Santana, ex-marqueteiro das campanhas do PT, e Mônica Moura, sua sócia e mulher, só deixaram a Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, uma única saída para livrar-se da cadeia por muitos anos: delatar.
No caso de Lula e de Dilma, os depoimentos esvaziaram o discurso deles de que não sabiam de nada, de que nunca souberam de uso de caixa dois em seu favor, e de que foram e continuam sendo exemplos de políticos honestos, incapazes de ferir a lei.
Santana e Mônica contaram em detalhes como foram pagos nas campanhas de Lula em 2006, e de Dilma em 2010 e 2014. Orientados por Palocci, a quem Lula havia recomendado que se reportassem, eles confessaram que foram pagos pelo PT e pela Odebrecht sempre por meio de caixas um e dois.
O PT pagou com dinheiro declarado à Justiça (caixa um) e não declarado (caixa dois). A Odebrecht por caixa dois. Era pegar ou largar, segundo Palocci disse certa vez a Santana. Dinheiro de caixa dois foi pago em espécie, entregue em mãos, ou depositado em contas no exterior.
O que os dois disseram a Moro confirma o que os delatores da Odebrecht haviam adiantado à Procuradoria Geral da República. Preso em Curitiba desde setembro do ano passado, Palocci teve mais um pedido de relaxamento de sua prisão recusado, ontem, pela Justiça.
Há duas semanas, pelo menos, Palocci começou a negociar sua delação premiada com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Ele tem pressa. Está perto de ser julgado por Moro sob a acusação de corrupção e de lavagem de dinheiro.
Os que negociam com ele exigem de Palocci que não se limite a detalhar a corrupção dentro dos governos Lula e Dilma, e do PT. Querem que ele conte o que sabe de negócios irregulares que envolveram os governos do PT e o próprio partido com bancos e empresas.
Palocci sabe muito. Ele sempre foi o homem do dinheiro de Lula e do PT. Do dinheiro cuidou também como coordenador da segunda campanha de Dilma. Ela o nomeou chefe da Casa Civil. Mas Palocci logo saiu quando se descobriu que ganhara milhões de dólares como consultor de empresas.
A eventual delação de Palocci abrirá de vez o caminho para as futuras condenações de Lula e de Dilma.
Ricardo Noblat / O Globo
Deixe um comentário