Marcelo Crivella
Aprendi no ministério mais do que colocar minhoca no anzol. Descobri o enorme potencial do peixe no Brasil. Nós ignoramos por muito tempo a aqüicultura
Aprendi no ministério mais do que colocar minhoca no anzol. Descobri o fascinante potencial do Brasil para o cultivo de pescado, que poderá torná-lo um dos maiores produtores mundiais.
São mais de 200 reservatórios federais disponíveis, sem contar lagos e açudes privados e públicos. No litoral, temos uma imensa plataforma para a produção de peixes, crustáceos, moluscos e algas, sempre de forma sustentável.O setor envolve alevinos (filhotes de peixe), ração, criação, transporte, beneficiamento e comercialização de pescado.
Além de produzirmos um alimento saudável e recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), vamos gerar riqueza e milhares de empregos na cadeia produtiva.
No mundo, o que mais se consome é peixe, principalmente pela demanda asiática. Esse mercado supera muitas vezes o de carne bovina e o de frango.
Hoje, o consumo mundial é da ordem de 126 milhões de toneladas anuais. A projeção dos especialistas é de que serão necessárias mais 100 milhões de toneladas até 2030 para atender ao crescente consumo de pescado no planeta.
No setor pesqueiro, o Brasil é um dos países com maior potencial. Temos tudo para ficar tão competitivos como já somos nos segmentos de grãos e de outros tipos de carne.
O país ignorou por muito tempo a aquicultura. Não estudamos nossos reservatórios e o nosso litoral para a atividade. Não desenvolvemos tecnologia nem pesquisamos as nossas próprias espécies de pescado para produção em cativeiro.
E olhe que o Brasil tem uma das maiores biodiversidades do mundo. Possui peixes como o tambaqui -que come ração animal e vegetal- e o pirarucu, um dos maiores de água doce do mundo, apropriado para a produção de bacalhau.
Finalmente, há poucos anos, o país descobriu que um segundo pré-sal está diante de seus olhos e não escondido nas profundezas oceânicas.
No entanto, é preciso determinação e vontade política para aproveitar esta imensa riqueza. E a piscicultura pode se tornar uma atividade promissora em todas as regiões do país, inclusive na Amazônia, que detém 8,5% da água doce do planeta, sem a necessidade de desmatar qualquer área.
A aquicultura nacional cresce cerca de 10% ao ano. Caminha para 20%, com a entrada em operação dos parques e áreas aquícolas que serão implantados pelo Ministério da Pesca e Aquicultura em reservatórios de hidrelétrica e no litoral. Hoje, há crédito do BNDES e de bancos oficiais para projetos de todo porte.
Já temos parques aquícolas em Furnas (MG), Três Marias (MG), Ilha Solteira (SP, MS, MG), Castanhão (CE), Itaipu (PR) e Tucuruí (PA). Quando estes reservatórios estiverem produzindo a plena carga -aproveitando até 1% do espelho d’água para não impactar o meio ambiente-, triplicaremos a atual produção da piscicultura nacional, passando de 500 mil para 1,5 milhão de toneladas anuais.
Neste momento, estão em estudo 24 reservatórios públicos, entre eles Serra da Mesa (GO), Cana Brava (GO), Manso (MT), Lajeado (TO) e outros oito na calha do Paranapanema.
A ideia é que os reservatórios produzam não apenas energia elétrica como alimento. A aquicultura é um excelente negócio, como atesta o BNDES após estudar o setor. A lucratividade de um hectare de lâmina d’água com criação de pescado supera geometricamente a obtida em uma mesma área com gado.
Na Rio+20, defenderei a aquicultura como uma ótima solução para o Brasil produzir, de forma intensiva e com sustentabilidade ambiental, um alimento saudável.
MARCELO CRIVELLA, 54, engenheiro civil e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, é ministro da Pesca e Aqüicultura
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