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A democracia da areia

por César Teixeira, no Correio do Litoral

Sábado de sol, e domingão também. Que beleza! Sem chance de ficar em casa, na frente do PC ou vendo futebol na TV. Vamos a “la playa”, ô ô ô, ô ô. Todos ao mar.

Chegando as areias de Ipacaraí para encontrar meu amigo e vizinho Luiz Fernando, o Ferpa, juntamente com seus irmãos Jean e João Marcos, o Farpa, a quem havia quase 10 anos não encontrava, mais crianças, esposas e mãe. É quase uma festa. Não! É uma festa!

Crianças devidamente instaladas em área segura e protegida por salva-vidas e besuntadas por generosa camada de protetor solar; senhoras também instaladas sob guarda-sóis, algumas e também besuntadas, só que por bronzeador outras, mas todas, já no tricô; vamos nós, os brucutus, botarmos o papo em dia, e porque não, olhar e muito para as “discrepâncias” alheias.

Nem mesa de boteco ganha. A areia é bem mais democrática. Você vê tudo, de tudo com tudo dentro e fora. Sobrando e faltando. Abundantemente e miseravelmente. É uma beleza! Biquínis minúsculos e panos fartos parecem mostrar a personalidade dos ocupantes. A gostosa que se acha com curvas e retas sedutoras, exagera no cavadão do biquíni e beira a vulgaridade, se não passar dela. A tiazinha que extrapola nos panos buscando esconder o que a idade e a lei da gravidade fizeram descer (nunca cair), desencana e parece mais feliz que nunca.

O garotão, sarado e malhado, de sunguinha branca, insistentemente expões seus músculos para outros rapazes que parecem “nem aí” com ele e “muito aí” com as gatinhas que há quase 2 horas tentam montar uma rede de vôlei sem muito sucesso. E o vovô? Alguém segure esse cara! Parece em treinamento intensivo para a 8ª Volta de Guaratuba – que, aliás, acontece dia 4 de fevereiro na Praia Central.

Mais ao fundo, numa área quase sem ninguém, três tiozinhos, contemporâneos, em arte de garotos, acendem “unzinho para desbaratinar”, sentir a maresia, uh, uhu! Mas, logo são flagrados e levam aquela bronca de um cidadão “acima de qualquer suspeita” que se apresenta, de sunga, como um sargento que não é sujeira, mas, que não permite que isso aconteça “na sua área”. Como assim, sua área?

Ah! Tem também o casalzinho apaixonado catando conchinhas entre um beijinho, uma jura de amor eterno e uma passadinha de mão mais assanhada. Tem o machão que nunca acredita na ação incidente do sol e acaba vencido com a pele quase pururucando.

E mais um monte de outras figuras que fazem da areia o território mais livre, franco, aberto e verdadeiro de todos. Ali, estão ou estamos quase desnudos, não há espaço para a hipocrisia, para os disfarces, para a foto posada, para o flagrante arranjado. De sunga ou biquíni, somos todos do Batel ou do Boqueirão, somos todos da elite ou da ralé, somos todos assim, como esses quatro manés que passaram a tarde toda observando, criticando, “botando reparo” na vida alheia, na praia, dando boas risadas e com certeza, sendo motivo de risadas também.

A ditadura da areia termina no calçadão. Beleza mesmo, é mostrar-se mais de alma que de corpo.

Boa semana.