A reunião do Mercosul marcada para a semana que vem em Mendoza, no norte da Argentina, pode contar com a presença tanto do novo presidente do Paraguai como do seu presidente deposto. Tanto o novo chanceler, José Féliz Fernández Estigarribia, quando Fernando Lugo, destituído na última sexta-feira, disseram hoje à imprensa que estarão presentes na cúpula, adianta Daniel Favero, no Portal Terra.
“Participaremos da cúpula do Mercosul”, disse Fernández Estigarribia em uma coletiva de imprensa para a AFP e demais meios de comunicação internacionais na sede da chancelaria em Assunção, informando que ele integrará a delegação. Ele não esclareceu se o novo presidente, Federico Franco, também viajará. “Vou eu e meu vice-chanceler”, garantiu.
Mais tarde, falando mais uma vez a jornalistas da frente de sua residência na capital paraguaia, Lugo voltou a criticar a situação do Paraguai e garantiu que se fará presente na reunião do Mercosul.
Oficialmente, o objetivo das duas partes no encontro é distinto. Estigarribia informou que, além de representar o Paraguai, deverá abordar o recente processo de impeachment. Lugo, por sua vez disse que deve participar do encontro para solucionar a transição da função do Paraguai, que atualmente preside a União das Nações Sul-americanas (Unasul).
Na reunião desta semana, os demais membros do bloco – Argentina, Brasil e Uruguai – devem abordar a abrupta destituição de Lugo pelo Congresso, segundo disse a AFP. Estes três países criticaram o processo político instaurado no Paraguai e resta saber a postura que será assumida, sobretudo com a presença do ex-mandatário.
Processo relâmpago destitui Lugo da presidência
No dia 15 de junho, um confronto entre policiais e sem-terra em uma área rural de Cuaraguaty, ligada a opositores, terminou com 17 mortes.
O episódio desencadeou uma crise no Paraguai, na qual o presidente Fernando Lugo, acusado pelo ocorrido, foi sendo isolado no xadrez político. Seis dias depois, a Câmara dos Deputados aprovou de modo quase unânime (73 votos a 1) o pedido de impeachment do presidente. No dia 22, pouco mais de 24 horas depois, o Senado julgou o processo e, por 39 votos a 4, destituiu o presidente.
A rapidez do processo, a falta de concretude das acusações e a quase inexistente chance de defesa do acusado provocaram uma onda de críticas entre as lideranças latino-americanas. Lugo, por sua vez, não esboçou resistência e se despediu do poder com um discurso emotivo.
Em poucos instantes, Federico Franco, seu vice, foi ovacionado e empossado. Ele discursou a um Congresso lotado, pedindo união ao povo paraguaio – enquanto nas ruas manifestantes entravam em confronto com a polícia -, e compreensão aos vizinhos latinos, que questionam a legitimidade do ocorrido em Assunção.