Programas de intercâmbio entram no radar de jovens das classes médias da população, às custas de algum sacrifício e muita ambição
por Carlos Lordelo e Cedê Silva, no Estadão.edu
O garoto sorridente em Times Square na foto acima não é mais um brasileiro que aproveitou as férias de fim de ano para fazer compras em Nova York. Filho de taxista com dona de casa, Caio Allan dos Santos, de 17 anos, economizou o salário de auxiliar administrativo e, com ajuda do pai, chegou aos EUA há dez dias para estudar inglês. Foi o primeiro da casa a viajar de avião, o que, por si só, já é motivo de orgulho para uma típica família da classe C.
“Posso fazer outras mil viagens, mas não tem como esquecer desta. Até dos momentos burocráticos, como tirar visto”, diz Caio, que volta ao Brasil no dia 24. O estudante acaba de concluir o ensino médio em uma escola estadual da zona leste de São Paulo e passou no curso de Administração com ênfase em Comércio Exterior da Universidade São Judas.
Caio precisou convencer a mãe da importância do intercâmbio, já que, para ela, o investimento de R$ 8 mil era “absurdo”. “Falei que meu objetivo não era passear, mas estudar”, conta o garoto, aluno de um cursinho de inglês há três anos. Para ele, o intercâmbio pode ser um aliado no objetivo de “trabalhar numa multinacional.”
A possibilidade de fazer cursos no exterior começa a se tornar acessível para jovens de famílias com renda entre R$ 1.200,00 e R$ 5.174,00 (definição da Fundação Getulio Vargas para a classe C). Os motivos vão do real valorizado às facilidades de parcelamento.
Segundo Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV, pesquisas mostram que, quando a família sobe da classe D para a C, os gastos com turismo triplicam, enquanto os com alimentação duplicam. “Mudar de classe implica mudar de aspirações. As pessoas da classe média usam o poder de compra para estudar no exterior, e não trabalhar, porque veem a educação como mecanismo de ascensão social.”
“A classe C está sentindo uma necessidade de qualificação e tem acesso ao crédito com muita facilidade. O programa de intercâmbio pode ser vendido em várias vezes sem juros”, diz Marcelo Albuquerque, diretor da IE Intercâmbio. Segundo ele, quando a agência abriu as portas, há 14 anos, as classes A e B representavam 80% do faturamento. Agora a liderança é da C, com 55%.
“Fiz intercâmbio nos anos 70, quando poucas pessoas tinham acesso. Meus pais fizeram um baita sacrifício: da minha turma só fui eu. Hoje 20 amigos do meu filho já fizeram alguma viagem desse tipo. Não tem mais números pequenos”, diz Maura Leão, presidente da Belta, entidade que reúne agências de intercâmbio do País. “A classe C tem mais acesso à informação, consegue se planejar. Tem servidor público mandando filho para o exterior.”
A funcionária pública baiana Márcia Brito Silva, de 53, guardou dinheiro por três anos para que o filho pudesse fazer intercâmbio em Toronto. “Quando contei para minha família que Matheus ia estudar no Canadá, ficaram encantados. Só duas primas tinham ido ao exterior, para a Disney.”
Matheus, hoje com 17, ficou fora do País de novembro do ano passado a fevereiro. Estuda inglês desde os 14 em um dos melhores cursinhos de Salvador, com bolsa integral, por ter se destacado na escola pública.
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