O Brasil decente exige a imediata anulação da meia delação premiadíssima
Com uma entrevista concedida à Veja, um depoimento ao Ministério Público Federal e a divulgação de um segundo lote do latifúndio de patifarias que protagonizou, Joesley Batista confirmou o que aqui se repete há quase três meses: em parceria com Rodrigo Janot e com a bênção de Edson Fachin, o dono da JBS inventou a meia delação premiadíssima. Sem contar tudo o que sabe, o açougueiro predileto de Lula, de Dilma Rousseff e do BNDES foi presenteado com um habeas corpus vitalício.
Como vêm ensinando há mais de três anos os condutores da Lava Jato ─ a verdadeira, baseada em Curitiba —, acordos de colaboração premiada garantem aos beneficiários a redução da pena, não a condenação à perpétua impunidade. E só merece ter reduzida a temporada na gaiola quem escancara todas as bandalheiras em que se envolveu numa única sequência de depoimentos. Não tem sido assim com o bilionário espertalhão.
Só Joesley foi autorizado a saldar a conta em prestações, num prazo de pai para filho, fixar o tamanho de cada parcela e decidir quais serão os alvos da vez. Nesta semana, ele manteve a linha inaugural: o bombardeio concentrado em Michel Temer é interrompido por disparos de balas de festim na direção dos ex-presidentes que prometeram ao país um campeão nacional da indústria e entregaram um recordista mundial de salto sobre cofres públicos.
Joesley ingressou no clube dos bilionários pendurado nos ombros de Lula e ali continuou por ter caído no colo de Dilma. Mas cabem num asterisco do calhamaço de depoimentos as revelações sobre as canalhices consumadas com a cumplicidade da dupla de comparsas. Para proteger os padrinhos da ladroagem, Joesley continua escondendo o que há de mais interessante no ainda abarrotado baú de bandalheiras.
A meia delação premiadíssima deve ser imediatamente anulada. E Joesley merece descansar na cadeia até entender que semidelatores são criminosos que simulam arrependimento para debochar da Justiça.
Foto: Leonardo Benassatto/Reuters
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