Ditadura: entidades manifestam-se sobre abusos
Por Fernando R. V. Fernandes – SopaBrasiguaia.com
O caso da paraguaia Julia Ozorio Gamecho, que aos 13 anos de idade foi raptada de dentro de sua casa para servir como escrava sexual ao coronel Pedro Julián Miers, responsável pela segurança do ex-ditador Alfredo Stroessner, despertou interesse de entidades paraguaias defensoras dos direitos humanos e da mulher.
Gamecho relatou ao ABC Color não apenas os abusos a que foi submetida durante os dois anos em que esteve à mercê do coronel Miers, mas também as crueldades pelas quais passavam outras pessoas consideradas subversivas pela ditadura paraguaia.
Também lançou um livro intitulado “Una rosa y mil soldados”, encorajada por um psiquiatra que tratava das seqüelas deixadas pelos abusos, contando sua história nas mãos dos militares.
“Valorizamos e admiramos sua valentia de contar os fatos que lhe sucederam e deixaram traumas irreparáveis em sua pessoa até hoje, pelas torturas físicas e psicológicas às quais foi submetida. Esperamos que se aproxime da Comissão de Verdade e Justiça para agregar a nosso informe”, expressou Yudith Rolón, parte da mencionada Comissão do Congresso paraguaio.
A parlamentar afirmou que casos como o relatado por Gamecho na entrevista ao ABC Color e em sua obra efetivamente ocorreram durante a ditadura de Alfredo Stroessner. “Fizemos uma árdua investigação tratando de encontrar testemunhas. Obtivemos informação, mas ninguém quis dar uma declaração que possa ser publicada, por temor a represálias”.
“Inclusive, na região de Asunción localizamos um domicílio onde criavam meninas ou as preparavam para que pudessem participar das reuniões sexuais que faziam em forma privada com as autoridades”, explica. A parlamentar afirma ainda que a ditadura seqüestrava meninas a partir dos sete anos, e não a partir de 12 anos, como se supunha.
Já Clara Rosa Gagliardone, diretora da Fundação Kuña Aty, de defesa dos direitos das mulheres, lamentou que ainda nos dias de hoje, muitos militares e pessoas ligadas ao poder estatal, considerem as mulheres apenas como “um brinquedo à sua disposição”.
Gagliardone advertiu também que “é certo que nas ditaduras é mais fácil submeter uma pessoa, mas o sistema democrático não garante a liberdade, a segurança e a independência das meninas, meninos e adolescentes. Felicito Julia Ozorio, que merece nosso respeito, mas é preocupante a indiferença do Estado ante estes crimes”.
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