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Israel rompe cessar-fogo e mata mais de 400 em novo ataque contra Gaza

Ataque massivo foi precedido nas últimas semanas de vários outros menores, entre diversas violações do acordo por parte de Tel Aviv

As Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) realizaram um novo bombardeio contra a Faixa de Gaza com ataques aéreos e de artilharia, nas primeiras horas desta terça-feira (18/03), matando ao menos 400 pessoas.

Segundo o Ministério da Saúde palestino, a maioria dos mortos eram mulheres e crianças e “várias vítimas ainda estão sob os escombros”. Só foram contabilizados os corpos que chegaram aos hospitais. E, com a maior parte dos hospitais destruídos por Israel, boa parte dos mais de 660 feridos não tiveram ainda como serem atendidos.

Imagens divulgadas por jornalistas locais mostram corpos em hospitais, incêndios e gritos da população que foi acordada pelas bombas. Alto-falantes pediam que as pessoas rezassem a primeira oração do dia em casa, sem se arriscar nas ruas para ir às mesquitas. Este é o mês sagrado do Ramadã para os muçulmanos.

Entre as regiões bombardeadas estavam Deir al-Balah, Cidade de Gaza, Jan Yunis, Rafah e Al-Mawasi. Esta última é justamente uma área que Israel declarou “humanitária”, orientando que os deslocados a força se dirigissem para lá.

Além de edifícios, acampamentos de tendas foram bombardeados. O ataque massivo foi precedido nas últimas semanas de vários outros menores, entre diversas violações do acordo cessar-fogo por Israel.

“Corpos e membros estão no chão, os feridos não conseguem encontrar nenhum médico para tratá-los. Eles bombardearam um prédio na área (do hospital) e ainda há mártires e feridos sob os escombros… medo e terror. A morte é melhor do que a vida”, disse Ramez Alammarin, de 25 anos, depois de acompanhar o transporte de crianças para um hospital perto da Cidade de Gaza. Suas declarações foram reproduzidas pela agência francesa AFP e pelo jornal britânico Guardian.

Cessar-fogo quebrado

De acordo com a mídia local, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu avisou previamente aos Estados Unidos sobre o novo ataque, e recebeu sinal verde do presidente Donald Trump para a operação.

”A partir de agora, o Hamas agirá sobre Israel com força militar crescente”, disse Netanyahu. Ele justificou o ataque pela suposta “repetida recusa” do Hamas em libertar mais reféns sem o compromisso de Israel de encerrar a guerra.

A segunda fase do acordo previa não só a libertação de todos os reféns, como a retirada das tropas israelenses e o fim da guerra. Netanyahu se negou a negociar o início dessa etapa.

O Exército de Israel disse que a operação “continuará enquanto for necessário” e que será maior, para “além dos bombardeios aéreos”. O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, afirmou que Tel Aviv não mostrará “nenhuma misericórdia” e “não parará até que todos os reféns estejam de volta”.

O Hamas alertou que os ataques de Israel violaram o cessar-fogo e colocaram o destino dos reféns em risco. Um alto funcionário do grupo palestino foi mais longe e disse que os ataques equivaliam a uma “sentença de morte” para os reféns mantidos em Gaza.

Israel garante que ataques prosseguirão

A intensidade dos ataques supera a média diária do período anterior ao cessar-fogo, que já foi especialmente intenso. Israel já vinha promovendo ataques aéreos a Gaza há dias, com quase 20 mortes confirmadas nas 48 horas antes aos ataques massivos desta terça-feira.

Isso tudo enquanto as equipes de negociação haviam viajado ao Egito e Catar para retomar as conversas sobre a segunda fase do cessar fogo. A delegação israelense foi até o Cairo na segunda-feira (17/03) e retornou no mesmo dia.

Netanyahu afirmou em comunicado que o Hamas “rejeitou todas as propostas” feitas pelo enviado de Trump ao Oriente Médio e “pelos mediadores”. Suas afirmações, entretanto, são desmentidas por tudo o que foi divulgado nas duas últimas semanas sobre a resistência de Israel em iniciar as negociações da segunda fase do cessar-fogo.

Israel e os Estados Unidos insistiram em estender a primeira fase da trégua, que oficialmente se encerrou dia 1º de março. Ambos exigiram que o Hamas libertasse os reféns sem nenhuma garantia de que o acordo seria mantido.

Hamas concordou em estender a primeira fase e libertar mais reféns, desde que as negociações para a segunda fase começassem imediatamente. Ante a negativa do grupo de libertar todos os reféns sem nenhuma contrapartida, Israel voltou a bloquear, há 15 dias, toda entrada de suprimentos em Gaza, incluindo medicamentos, alimentos e até água.

Diversas reportagens internacionais mostravam como a população já sofria de fome em Gaza. Pouco depois, Israel cortou também o fornecimento elétrico.

Hamas acusa Netanyahu de retomar a guerra para salvar seu governo

Izzat al-Risheq, do bureau político do Hamas, acusou Netanyahu de retomar a guerra para tentar salvar seu governo, que enfrenta mais uma crise. Já no início da trégua, alguns membros da coalisão de extrema direita da gestão disseram que só aceitariam o cessar-fogo com a condição de retomar a guerra após a primeira fase.

Entretanto, o retorno dos combates tende a acentuar as disputas internas em Israel, já que milhares de israelenses tomaram as ruas pedindo que o cessar-fogo fosse mantido e que o governo negociasse a segunda fase. Muitos familiares de reféns e reféns libertados também apelam a Netanyahu.

Novas manifestações foram convocadas para esta terça e quarta-feira (19/03) logo que Netanyahu anunciou, no domingo (16/03), sua intenção de demitir o chefe da agência de segurança interna de Israel, Ronen Bar.

Fonte: Opera Mundi