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Zeca Dirceu: Hino de Bolsonaro é uma barriga roncando de fome

Zeca Dirceu Hino de Bolsonaro é uma barriga roncando de fome
Zeca Dirceu Hino de Bolsonaro é uma barriga roncando de fome

Zeca Dirceu, deputado federal do Paraná critica a falta de ações efetivas do presidente Jair Bolsonaro diante da situação de miséria e fome que vem se apoderando do Brasil.

“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, me chamam de subserviso e comunista ” – Dom Helder Câmara

Em 19 de julho de 2019, Jair Bolsonaro disse desconhecer a fome. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira”, disse a jornalistas. Ao relativizar a situação, negando-a por dizer não ver mais pessoas com “físico esquelético” pela rua, ele permitiu que, três anos depois, o Brasil se encontrasse em uma das faces mais cruéis da sua história: com metade da população convivendo com algum grau de insegurança alimentar e 33,3 milhões de pessoas passando fome.

Esses dados chocaram o Brasil do alimento, no início deste mês, quando foi divulgado o resultado do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. E chocaram, porque, desde 2014, o país não se encontrava mais no hall da fome mundial.

Entre 2004 e 2013, o país era referência internacional no combate à fome. Com a política do Fome Zero, do Bolsa Família, do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) mais os programas de apoio à agricultura familiar, agroecológica e orgânica, a segurança alimentar foi defendida pelo governo do PT, a fim de garantir as três refeições diárias aos brasileiros e brasileiras. Nesse período, a fome, que atingia 9,5% da população, passou para 4,2%. Um esforço desmontado, agora, por quem tem no hino nacional a barriga roncando de fome de 15,5% da população.

Mas é preciso ter dimensão do impacto. Desde que a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar foi criada (Ebia), entre 2003 e 2004, o Brasil jamais teve esse número de pessoas convivendo com algum grau de insegurança alimentar. Falo hoje de 125 milhões de brasileiros que têm alguma refeição do dia suprimida sob as asas do mesmo governo que banca churrascos a preços sigilosos.

Já quando falamos da fome, precisaríamos de três estados do Paraná para comportar o número de brasileiros e brasileiras que não têm o que comer.

Nem mesmo quem planta está com esse direito assegurado. Mais de 62% das casas localizadas em áreas rurais sofrem com a insegurança alimentar e outras 18,6% com a fome. O índice, para o trabalhador e trabalhadora do campo, é maior que o nacional e piora quando o recorte recai sob as famílias de negras, negros e pessoas pardas: 65% dos lares comandados por estas pessoas convivem com a restrição de alimentos.

Na contrapartida, em 2021, o Brasil teve recorde na exportação de alimentos. Então por que esta conta não fecha? Por que o país que alimenta o mundo não alimenta os seus?

A fome não é algo natural ou resultado da falta de alimentos. Não. Há alimentos de sobra no Brasil. A fome, sabemos, só surge quando os governantes não se empenham em combatê-la. E lado a lado a ela está a miséria, o fosso para onde Bolsonaro empurrou os brasileiros e brasileiras por meio do desmonte de programas que asseguravam emprego e renda.

Aquele que se negou a reconhecer a fome no Brasil, três anos atrás, é o que permitiu este cenário do fim do mundo, agora.

Carolina Maria de Jesus, mulher, escritora e negra, dimensionou essa dor ao escrever que “a tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago” .

Como Carolina, 33,3 milhões de brasileiros e brasileiras dormirão, hoje, com ar no estômago.
Felizmente, os ventos que sopram na América Latina se voltam para a esquerda. Reavivamos a memória, pois só quem tirou o Brasil do mapa da fome poderá tirá-lo de novo.

Retomar programas de incentivo ao pequeno e médio agricultor, de distribuição de terra, de reforço da merenda escolar, aumento real do salário mínimo, uso do Estado para desenvolvimento de emprego e renda, redução  da inflação e programas de complemento de renda são exemplos de caminhos a serem seguidos.

A agricultura familiar já responde por 70% da comida que vai à mesa. É por isso que estas pessoas, mulheres e homens do campo, também precisam voltar a contar com as políticas de crédito a juros baixos, com prazo de carência e parcelamento, acesso à internet, a áreas de lazer e estradas pavimentadas nas suas comunidades para que não sofram um êxodo rural forçado e se comprometa a nova geração de agricultores.  Dar condições para manter o jovem no campo é assegurar o agricultor do futuro.