Era 1985, quando os presidentes José Sarney, do Brasil, e Raúl Alfonsín, da Argentina, se encontraram em Foz do Iguaçu para a inauguração da Ponte Tancredo Neves, que liga a cidade a Puerto Iguazú. Aqui, eles também assinaram a Declaração do Iguaçu, prevendo a integração entre os dois países, e deram início ao que, seis anos depois, se consolidou no Tratado de Assunção, que criava o Mercosul, agregando, além de Brasil e Argentina, também o Uruguai e o Paraguai.
A criação do Mercosul completa 30 anos e, embora o bloco tenha nascido inicialmente com objetivos econômicos, ele avançou para outras áreas, que ainda seguem em fase de consolidação.
A formação do bloco, além de por fim à “competição bélica” de Brasil e Argentina, à época, principalmente relacionadas a uma disputa por armas nucleares, também teve a capacidade de unir países que protagonizaram um momento cruel da história da América Latina – a guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) contra o Paraguai. “Muito provavelmente, o principal acúmulo comunitário – expressão muito utilizada na União Europeia – desses 30 anos de Mercosul é ter clareza de que não se considera mais, não se levam mais em consideração, para o desenho da política externa desses países, as ameaças entre vizinhos. E essa paz, que é ausência de violência direta ou do risco de uma violência direta, permite que as energias sejam gastas na construção de relações de integração e de cooperação”, analisa o professor de Direito da Integração na Unila, Gustavo Oliveira Vieira.
As três décadas de existência do Mercosul foram marcadas por governos nacionais de diferentes linhas de pensamento e por dificuldades econômicas e sociais diversas. Mas o bloco ainda tem fôlego suficiente para seguir avançando, segundo avaliação da cientista social e professora da UNILA Paula Fernández. “O Mercosul tem flexibilidade, tem demonstrado que se adapta também, ou tem sido adaptado, às diferentes circunstâncias e governos da região”, diz.
Gustavo Vieira acredita que a consolidação do Mercosul também depende de outras esferas da sociedade, além dos poderes executivos de cada nação. “Isso tem de ser uma tarefa de todos os poderes e de todos os órgãos. Essa é uma agenda de todos nós, de todas as instituições e de todos os cidadãos do Mercosul. E é só com esse caminho que o Mercosul poderá se consolidar como um bloco de integração que aponta rumos para a formação de uma comunidade, efetivamente.”
Questões fronteiriças são um dos temas que ainda precisam ser ajustados no Mercosul, avalia Vieira. “Será que é admissível que regiões transfronteiriças fechem as fronteiras? Será que a gente não deveria ter tido um nível de cooperação epidemiológica que permitisse o controle desta região, uma vez que vivemos [Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e Ciudad del Este] como uma comunidade? Temos muitos desafios na área comercial, na área social, de cooperação fronteiriça.”
Fonte: Unila
Foto- crédito: Unila
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