A presidente da Sociedade Paranaense de Nefrologia, Ana Maria Emrich, atentou nesta quarta-feira, 19, para os problemas enfrentados pelos pacientes submetidos ao tratamento dos rins durante a pandemia do coronavírus. Segundo ela, cerca de 140 mil brasileiros estão nessa situação, sendo que 79% deles fazem o tratamento pelo SUS, em entidades privadas credenciadas.
“No Paraná, cinco mil pessoas realizam são atendidas nos 46 centros de diálise do Estado. Muitos estão com a qualidade de vida comprometida por não estarem mais fazendo a hemodiálise de forma periódica”, pontuou a médica durante oitava reunião da Frente Parlamentar do Coronavírus.
Ana Maria alertou ainda para o subfinanciamento crônico do setor público na área. “Depois de quatro anos sem reajuste, em 2017, tivemos um reajuste na sessão de hemodiálise de R$ 179 para R$ 194,20. Valores que se mantém até hoje.” disse. “Se fossemos levar o índice IGPM de inflação, o valor deveria ser de R$ 381,15 para se ter idéia da defasagem econômica.” completou.
Além da falta de reajuste, segundo a médica, os custos do tratamento aumentaram. “A heparina, medicamento essencial para o tratamento, é um anticoagulante que permite que o sangue circule no sistema e passe pela máquina para que seja filtrado. Em 2015, cinco miligrama deste medicamento custava R$ 7,28, hoje custa R$ 21,20”, destacou.
Setor sensível
Em relação a pandemia, Ana Maria ressaltou que a área da nefrologia é bastante sensível ao vírus, pois além dos doentes renais crônicos não poderem ficar em casa, pois necessitam das sessões para para sobreviver, eles se enquadram na população de risco da covid-19.
“A infecção pelo coronavírus está fortemente associada ao acometimento renal de forma aguda. De acordos com estudos realizado em hospitais de Nova York, dos infectados que necessitam de entubação e ventilação mecânica, 89% sofrerão de insuficiência renal aguda e 23% precisarão iniciar tratamento de hemodiálise.” disse.
Além disso, a médica explica que a pandemia tornou necessário a readequação estrutural das clínicas para aumentar o espaçamento entre as pessoas nas salas de recepção, de espera e nas sessões de hemodiálise, como também necessitou da disponibilização de técnicos para triagem na entrada de pessoas, e o aumento no uso de equipamentos para proteção individual – que por conta da escassez tem aumentado de preço.
“Nós tivemos que ter salas de isolamentos para a hemodiálise em pacientes suspeitos ou confirmados com covid-19, e as mudanças de logística necessária para evitar a contaminação. Para isso, foi necessário técnicos e enfermeiros exclusivos para acompanhar os pacientes isolados e alguns centros estão realizando um turno a mais de atendimento, necessitando do pagamento de horas extras, encargos e insumos. Tudo para manter o atendimento básico ao doente renal crônico.” explicou.
Demandas
A frente parlamentar, coordenada pelo deputado Michele Caputo (PSDB), debateu as reivindicações e ações na área voltada para a saúde dos rins.
“Tenho respeito e sei do valor da nefrologia no Paraná. Por isso, fizemos questão de abrir esse espaço e lutar pelo que é o justo” disse.
Michele Caputo destacou também que as reivindicações da área precisam ser atendidas. “Não é nenhum absurdo até por que muitos estados estão complementando os repasses para a área”.
O deputado assegurou que a frente vai encaminhar para a Secretária Estadual de Saúde as ponderações, demandas e reivindicações do setor.
“A diálise é fundamental para a manutenção da vida. Tem gente que precisa fazer ela de forma diária ou três vezes por semana. Sem dúvida, é uma realidade muito sacrificante.” disse.
Michele Caputo, que já foi secretário de saúde do Paraná e de Curitiba, lembrou que transplante de rim é uma das maiores demandas do SUS.
“A maior demanda da população que precisa de novos órgãos é por transplante renal. Cerca de 80% da fila, não só no Paraná mas no Brasil inteiro. Então precisamos ter esse olhar para esses serviços que salvam vidas”, destacou.
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