Os integrantes da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News podem votar na próxima quarta-feira (4) propostas de convocação de 89 pessoas para depor do Congresso. Outras dez podem ainda ser convidadas. As informações são de Renato Onofre na Folha de S. Paulo.
Ao contrário de um convite, a pessoa convocada é obrigada a comparecer se a audiência for marcada.
A lista de convocação inclui o ex-funcionário da Yacows Hans River do Rio Nascimento, as jornalistas da Folha Patrícia Campos Mello e Mônica Bergamo, o filho do presidente e vereador no Rio Carlos Bolsonaro (PSC). Entre os alvos dos requerimentos de convidados estão um dos proprietários do Grupo Globo, Roberto Irineu Marinho, e o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).
Se aprovar e realizar os depoimentos de convocações e convites pedidos pelos congressistas, o colegiado terá de trabalhar todos os dias (incluindo sábado, domingo e feriados) até o fim da data-limite da CPMI, 13 de abril, ouvindo pelo menos duas pessoas por dia para zerar a lista.
Além desses requerimentos, 153 pessoas tiveram convites ou convocações já aprovados pela CPMI.
Dessas, 57 pessoas tiveram convocação aprovada —nove já foram ouvidas, entre elas, o sócio da Yacows, Lindolfo Alves Neto, e seu ex-funcionário Hans River.
A CPMI ainda aprovou o convite de outras 96 pessoas. Dessas, 25 prestaram esclarecimentos ou participaram de audiências públicas.
O presidente da CPMI, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), já avisou aos colegas que não há condição técnica para votar todos os pedidos.
“Espero que as lideranças tanto de situação quanto de oposição façam um acordo para que possamos deliberar apenas requerimentos que venham a somar a CPMI. Não podemos ficar só no embate, no Fla-Flu, e a CPMI não chegar a lugar nenhum”, afirmou o senador.
Os deputados da oposição analisam ainda se vão manter o pedido para uma convocação de Hans River, que mentiu em depoimento à CPMI e insultou a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha. Há dois pedidos envolvendo ele na fila de requerimentos não votados.
Um grupo de congressistas ligados ao presidente Jair Bolsonaro diz que aceita a convocação do ex-funcionário da Yacows se houver uma acareação entre ele e a jornalista.
De acordo com Ângelo Coronel, os pedidos de convocação só irão voltar à pauta após acordo entre base e oposição. Um dos requerimentos que deve causar maior embate é o de Carlos Bolsonaro.
A relatora da comissão, Lídice da Mata (PSB-BA), tem dito que o depoimento do filho do presidente é fundamental para os trabalhos, uma vez que ele “foi citado diversas vezes como alguém que participou do disparo de notícias” nas eleições de 2018.
Além das convocações, os deputados e senadores também devem analisar pedidos de quebras de sigilo bancários e telemáticos de Hans River e dos sócios da Yacows.
A disputa entre congressistas bolsonaristas e a oposição transformou a CPMI em uma guerra de convocações.
A cada pedido feito por oposicionistas para esclarecer o uso ilegal de agências no disparo em massa durante as eleições, os apoiadores do presidente protocolam uma série de solicitações contra ex-integrantes dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, além de jornalistas.
O ex-ministros petistas Antônio Palocci e Franklin Martins têm três pedidos de convocação cada um.
Além de jornalistas da Folha, deputados e senadores bolsonaristas querem a convocação ou o convite de profissionais e ex-profissionais de comunicação da Rede Globo, do jornal O Globo, das revistas IstoÉ e Época e das rádios CBN e Jovem Pan.
A comissão, instalada no dia 4 de setembro de 2019, tem de apresentar o resultado final dos trabalhos no dia 13 de abril. Mas Lídice já articula a extensão dos trabalhos por ao menos dois meses.
Na sexta-feira (21), os técnicos da CPMI fecharam um resumo dos trabalhos do colegiado. O levantamento serviu para guiar as novas convocações e os requerimentos que serão feitos pela relatora.
Um dos focos daqui para a frente será elucidar a relação entre a Yacows, empresa investigada por disparo em massa na última disputa eleitoral, e a AM4, uma das principais prestadoras de serviço para a campanha de Bolsonaro.
Durante a sessão do dia 19, o principal sócio da Yacows, Lindolfo Alves Neto, não soube explicar o motivo que levou representantes da AM4 a participar da audiência trabalhista que selou o acordo com Hans River.
Em dezembro de 2018, a Folha revelou, com base em documentos e depoimento de Hans River, o uso de nome e CPF de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.
Na ocasião, a Folha conversou diversas vezes com Hans, que também era autor da ação trabalhista.
Nas primeiras conversas, ocorridas a partir de 19 de novembro e gravadas, ele disse que não sabia quais campanhas se valeram da fraude, mas reafirmou o conteúdo dos autos e respondeu a perguntas feitas pela reportagem. No dia 25, mudou de ideia após fazer acordo com a antiga empregadora, o que foi registrado no processo dois dias depois.
No próximo dia 3, um dos sócios da AM4 Brasil Inteligência Digital, Marcos Aurélio Carvalho, preta depoimento. Os outros dois proprietários da empresa —Magno Carvalho e Alexandre José Martins— devem depôr à CPMI nas semanas seguintes.
AM4 recebeu da campanha de Bolsonaro R$ 650 mil para cuidar das mídias digitais. Marcos Aurélio chegou a integrar por cerca de um mês equipe de transição do presidente eleito.
Em seu pedido, o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) citou uma reportagem publicada pela Folha em 18 de outubro de 2018. No texto, afirma-se que a AM4 contratou a empresa Yacows para fazer disparos em massa de mensagens, por meio do sistema Bulk Services.
Os dados do Bulk Services relativos à campanha de Bolsonaro foram apagados horas após a publicação da primeira reportagem sobre o caso, ainda em 2018. Lindolfo, dono da Yacows que desenvolveu o serviço, não soube explicar à CPMI os motivos de os dados terem sido apagados do sistema.
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