Quem são e quais funções exercerão no governo os três filhos de Jair Bolsonaro: todos políticos e possíveis titulares de cargos de liderança no Legislativo
Nonato Viegas, Edoardo Ghirotto e Fernando Molica, Veja
Não muito tempo atrás, eles podiam ser vistos de calção de banho na praia carioca de Joatinga — pé na areia, prancha na mão e nariz lambuzado de bloqueador solar. De garotões de praia, viraram políticos precoces, e, de políticos precoces, os assessores informais mais próximos e influentes do 38º presidente da República do Brasil. Flavio, Carlos e Eduardo Bolsonaro já tinham em comum com o pai a profissão — Flavio é deputado estadual e senador eleito, Carlos, vereador, e Eduardo, deputado federal. Agora, compartilharão com ele também popularidade e poder — os Bolsonaros já deixaram claro que não nasceram para filhos decorativos.
Eduardo, 34 anos, é o caçula do primeiro casamento. Flavio, 37 anos, o mais velho. Mas, na escala de proximidade com o pai, é Carlos, 35 anos, vereador, quem vem primeiro. Os três são filhos do casamento de Jair Bolsonaro com Rogéria Nantes (o presidente eleito ainda tem Jair Renan, 20 anos, e Laura, 8 anos, essa última com a atual mulher, Michelle).
Carluxo, como é chamado pela família, não ocupa cargo no governo de transição, e é provável que também não tenha um na futura administração. Nem por isso, no entanto, deixará de influenciar a gestão Bolsonaro. “O Carlos vive política 24 horas por dia e é o maior conselheiro do meu pai”, atesta o irmão Eduardo. Carlos foi o idealizador da estratégia de comunicação por meio das redes sociais que pavimentou o caminho de Bolsonaro para a vitória. Até hoje, o vereador é a única pessoa autorizada a postar mensagens nos perfis do pai, coisa que faz sem grandes preocupações com a polidez. Durante a campanha, por exemplo, o rival Fernando Haddad virou o “marmita de corrupto preso”, que faz “visita íntima” a Lula na cadeia. O PT era chamado de “lixo” e o candidato tucano ao governo de São Paulo, João Doria, hoje aliado de Bolsonaro, de “querido dos b. da ‘nova direita’”. A um tuiteiro que criticou sua agressividade, Carlos mandou o seguinte recado: “Não estamos atrás de votos! Faça o que quiser com o seu!”, escreveu, antes de encerrar o texto com uma sugestão proctológica. “Ele é o meu pit bull”, costuma dizer o capitão da reserva. Carlos sorri pouco, adora roupas militares e não desgruda de um boné camuflado que também serve para esconder a calvície precoce. É obcecado por armas e, sempre que pode, frequenta estandes de tiro. Seus ataques verbais, na maior parte das vezes, não ultrapassam o universo das redes. Ao vivo, costuma portar-se como um coadjuvante silencioso — não faz questão e nem mesmo gosta de aparecer, mas se enfurece com quem tenta fazê-lo. Irritou-se, por exemplo, com André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho, que disseminou a história de que havia traduzido a conversa telefônica entre Bolsonaro e o presidente americano Donald Trump logo após a vitória, no dia 28. O episódio em si tem pouca importância, mas mesmo assim Carlos fez questão de divulgar um vídeo para comprovar que a tradução, na verdade, foi feita por sua professora de inglês. Outro que acabou vítima da ira do pit bull de Bolsonaro foi Marco Aurélio Carvalho, sócio da empresa de comunicação que atuou na campanha presidencial, a AM4. Depois de se autointitular “marqueteiro digital” da campanha em uma entrevista, foi limado por Carlos: perdeu o emprego na equipe de transição. “Ele odeia gente interesseira”, diz Eduardo. “Chegou no Jair Bolsonaro para se dar bem, morder um cargo? Vai contar com a antipatia feroz dele”, resume. Eduardo e Flavio Bolsonaro acham que caberá ao irmão vereador a função de ministro informal da comunicação, considerando-se que nos próximos quatro anos ele não poderá alçar voos mais altos por impeditivos constitucionais: filhos de presidentes são inelegíveis, a não ser que disputem a reeleição a cargos que já ocupam.
Se o desempenho de Carlos na comunicação foi crucial na campanha do pai, Eduardo teve papel fundamental na educação econômica do candidato. A adesão, ao menos no plano teórico, de Bolsonaro ao liberalismo econômico foi impulsionada pelo filho, que iniciou, em 2016, uma especialização no Instituto Mises, centro difusor da escola liberal em São Paulo. A investida foi decisiva para selar a ligação de Bolsonaro com o economista Paulo Guedes e o mercado. Eduardo também teve forte influência na formação da bancada de dez deputados do PSL em São Paulo e na aproximação da campanha do pai com o ex-estrategista de Donald Trump Steve Bannon, criador do grupo The Movement, que reúne políticos de direita — ou “antissistema”, como prefere Bannon — em todo o mundo.
Ex-quadro administrativo na Polícia Federal, Eduardo trabalhou por menos de um ano como escrivão na fronteira de Rondônia com a Bolívia, antes de ser transferido para São Paulo, onde ficou até vencer sua primeira eleição, sempre no setor de controle de entorpecentes. Em sua candidatura a deputado federal em 2014, amealhou 82 000 votos com a ajuda do pai — Bolsonaro pediu a aliados paulistas que apresentassem Eduardo a corporações ligadas à área da segurança. Neste ano, Eduardo se reelegeu com quase 2 milhões de votos, recorde histórico para o cargo. Foi também Bolsonaro quem deu ao filho o livro O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota, uma coletânea de textos do filósofo Olavo de Carvalho organizada pelo comentarista político Felipe Moura Brasil. Zero Três tomou gosto pela coisa e passou a fazer o curso on-line do “professor Olavo”, como o guru é conhecido nas redes. Planeja levar uma caravana de deputados do PSL aos Estados Unidos para ter aulas presenciais com o ídolo em janeiro.
Como é o único dos filhos com experiência em Brasília, Eduardo virou o “embaixador” do pai no Congresso. Desde a campanha, atua como ouvidor dos pedidos direcionados ao futuro chefe do Executivo. Agora, o líder do PSL na Câmara deve virar o porta-voz do presidente eleito no Congresso. “Em matéria política, concordo 100% com o meu pai”, adianta. Eduardo chama todo mundo de “senhor”, incluindo colegas parlamentares, e é tido como um integrante disciplinado da bancada da bala — está sempre presente diante de convocações de urgência para votações de temas de interesse do grupo. Com 1,89 metro de altura, chegou a trabalhar como modelo da agência Elite antes de passar no concurso para a PF, mas gostava mesmo era de pegar onda em Ipanema e na Joatinga e de frequentar festas na Barra da Tijuca. Hoje, namora a psicóloga gaúcha Heloísa Wolf, com quem deve se casar em 2019.
Conforme a campanha do pai foi ganhando corpo, em 2018, Eduardo assumiu as vezes de estrategista político e planejou construir pontes com o exterior. Além da aproximação com Bannon, organizou um fórum em Foz do Iguaçu que reuniria lideranças conservadoras da América Latina, uma pretensa antítese ao Foro de São Paulo. Teve de cancelar o evento em cima da hora, por interferência do advogado Gustavo Bebianno, futuro secretário de Governo, cuja proximidade com o pai desagrada aos três filhos. O clã sempre avaliou que Bebianno queria ter mais influência na campanha do que qualquer outro colaborador — o que acabou criando uma animosidade dos filhos em relação ao advogado, até hoje recíproca. Onyx Lorenzoni, futuro titular da Casa Civil, também não morre de amores por Eduardo, o que ficou evidente no episódio em que Zero Três proferiu disparates contra o Supremo Tribunal Federal (STF), em vídeo postado na internet em julho e que veio à tona uma semana antes do segundo turno. A quem quis ouvir, Lorenzoni disse na ocasião que o deputado era “despreparado”.
Nesse sentido, Flavio Bolsonaro é tido, até mesmo pelos adversários da família, como o mais moderado dos irmãos. Formado em direito, leva vida pacata na Barra da Tijuca ao lado da mulher, Fernanda, e duas filhas. Antes de vencer o pleito para senador, com 4 milhões de votos, foi quatro vezes deputado estadual defendendo interesses de policiais. Sua personalidade contrasta com a do irmão Carlos, com quem já se indispôs por motivos políticos. Em 2016, quando Flavio concorreu à prefeitura do Rio, Carlos, então candidato a vereador, evitou associar seu nome ao do irmão, que terminaria em quarto lugar.
Flavio é o único do clã a manter relações cordiais com adversários como Marcelo Freixo, do PSOL, opositor contumaz aos seus projetos na Assembleia. Assim como os dois irmãos, Flavio não dá um passo sem antes combinar com o pai. Contudo, aliados creem que, por ter um perfil mais diplomático, ele tenderá a fazer ponderações quando discordar da ordem paterna. Um exemplo bem-sucedido da diplomacia do primogênito foi a decisão de apoiar o ex-juiz Wilson Witzel para o governo do Rio de Janeiro, apesar da neutralidade declarada publicamente por Bolsonaro pai. Junto com Carlos, Flavio tem participado da formação do novo governo. Na terça-feira 13, os irmãos chegaram a sabatinar o embaixador Ernesto Araújo, nomeado chanceler no dia seguinte. Os filhos do presidente eleito queriam saber o que o diplomata pensava sobre a crise na Venezuela, o regime de Cuba, a prisão do ex-presidente Lula e sua repercussão no exterior. “A gente perguntou também se votou em Fernando Haddad e até sobre o que acha da situação do Cesare Battisti. Tudo para saber, além do conhecimento técnico, o alinhamento político e ideológico”, contou Flavio.
Bolsonaro sempre viu os mandatos dos filhos como extensões do próprio. E sempre deixou claro que a palavra final era sua. Agora, dois deles deverão ocupar posições de liderança partidária — Flavio provavelmente será o líder do PSL no Senado. A situação configurará uma trinca com poder e alinhamento inéditos na política desde a redemocratização. Na teoria, tal afinidade pode pavimentar o caminho para a aprovação de temas caros a Bolsonaro, como a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, o endurecimento do rigor contra bandidos e itens do pacote econômico de Paulo Guedes. Na prática, diante de um Parlamento composto de políticos profissionais, a família Bolsonaro terá de mostrar que é capaz de fazer política fora da internet e que sabe governar e legislar para além dos interesses das corporações que sempre defendeu.
Será uma baixa e tanto. Os cubanos somam quase metade dos 18 000 médicos que participam do programa Mais Médicos, criado em 2013. Na quarta-feira, Cuba anunciou que chamará seus profissionais de volta e abandonará o acordo por não aprovar as condições impostas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para sua continuação: Bolsonaro quer que os cubanos se submetam ao teste do Revalida e recebam o valor total pago a eles pelo governo brasileiro. Hoje, os profissionais cubanos estão dispensados do Revalida, o exame de validação do diploma de medicina, ao qual qualquer médico formado no exterior tem de se submeter para exercer a profissão no Brasil. Também diferentemente dos participantes de outras nacionalidades, eles ficam com apenas 3 500 reais do total de 11 500 reais pagos mensalmente pelo Ministério da Saúde a cada profissional. O resto, cerca de 8 000 reais, vai para o regime cubano.
Bolsonaro não é o primeiro nem o único a criticar o formato do programa. Parte dos médicos brasileiros o desaprova, questiona o preparo de seus profissionais e as condições em que trabalham. Para a população atendida, porém, a iniciativa representou a solução de um problema. A maioria dos pacientes mora em cidades pequenas, pobres e afastadas dos grandes centros urbanos, onde médicos brasileiros não querem trabalhar.
Vários motivos levaram Cuba a se tornar o maior fornecedor de profissionais para o programa. Além de ele ser um negócio lucrativo para o governo (e também para os médicos, que, mesmo com uma parcela do salário confiscada pelo regime, conseguem ganhar bem mais no Brasil do que na ilha), há o fato de que o perfil da medicina cubana combinou com os objetivos do Mais Médicos, que é focado no atendimento básico de saúde e na prevenção de doenças. Com a partida dos cubanos, que deve ocorrer até o fim de dezembro, 24 milhões de pessoas podem ficar sem atendimento médico até que o ministério consiga repor os profissionais.
link matéria
https://veja.abril.com.br/politica/a-nova-dinastia/
Deixe um comentário