A amoralidade e a cultura de levar vantagem a qualquer preço fazem parte do histórico do Brasil desde os tempos de colonização portuguesa. O ‘malandrão’ quase sempre suplantou em carisma e sucesso a figura do mané. Afinal, “malandro é malandro, mané é mané”, na maliciosa canção interpretada por Bezerra da Silva. Leia artigo do jornalista Pedro Lichtnow, do blog Brasil Divulga.
Aos berros, os brasileiros contaram vantagens desde o descobrimento por sacanear o amigo, passar na frente dos outros na fila, furar o sinal vermelho, surrupiar num simples jogo de carteado. Tanta autocorrupção desbocou na política, no excesso de tributos cobrados dos brasileiros, nos juros astronômicos dos bancos e agora nas delações ou colaborações premiadas. Neste cenário de improbidades administrativas, de empresários lobistas ou políticos falsamente ideológicos, porém vorazes por poder e capital, inverter-se a nomenclatura para premiadas delações não seria nada absurdo ou sem lógica.
As delações premiadas são verdadeiros prêmios para os corruptos, para os empresários sem medo ou qualquer vergonha na cara e para a falta de senso da Justiça. Não há prêmio maior do que a liberdade ainda mais para quem assumiu a própria culpa em cartório. Ou melhor, na Justiça. A lógica ou falta de lógica premia os corruptos, salva a pele dos delatores cara de pau e distorce as realidades, em muitos casos, de acordo com a conveniência dos acusados e da própria Justiça. Nada contra as delações ou colaborações, porém tudo contra a banalização deste recurso. Corre-se o risco, sem critérios mais distintos, das delações virarem um verdadeiro bacanal da “Justiça” e um círculo vicioso, no qual o cachorro corre atrás do próprio rabo.
Pedro Lichtnow é jornalista, escritor e especialista em Comunicação Política e Imagem
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