É domingo à noite e você está assistindo a sua série favorita no Netflix. Lá pelas tantas, meio que por acaso, você dá de cara com uma live do prefeito varrendo o lixo deixado pelos bloquinhos de Carnaval. Você acha aquilo curioso, simpatiza com a cena, toma mais uma taça de vinho e vai dormir. No dia seguinte, acorda cedinho e lá está ele, animadíssimo, saindo para dar uma “incerta” no posto de saúde da Vila Maria, com o relógio ao fundo marcando 5h55.
É o prefeito espetáculo. Seu melhor exemplo, por óbvio, é João Doria. Mas não é o único. A onipresença da mídia levou ao extremo um traço antigo da política: o do “poder em cena”, da política como teatro e imagem. Vem daí Obama fazendo graça com Jimmy Fallon no Tonight show, ou Justin Trudeau esbanjando seu charme “feminista”. Ou mesmo José Mujica, o ex-presidente “mais pobre do mundo”, com sua casinha de um quarto, a cadela de três patas e o velho Fusca 1978. E por óbvio há Trump, fazendo tudo ao contrário, ainda que com um sentido muito parecido.
Nosso prefeito espetáculo capturou a tendência. Criou seu personagem. Em um tempo em que todos falam da falta de recursos e da “herança maldita” deixada pelos antecessores, ele não reclama. Olha para a frente e vai buscar recursos no setor privado. Corta despesas, manda vender os carros da prefeitura e suspende a impressão do Diário Oficial. Um político tradicional escutaria algum assessor dizendo que “a despesa é pequena, não vale o desgaste”. O prefeito espetáculo vai na contramão. Ele sabe do efeito na opinião pública. Sabe reconhecer isso como um ativo. As pessoas estão cansadas da palavra “crise” e eventualmente querem um líder que olhe para a frente.
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