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‘Falta de ética, de respeito’, reclamou alvo da Carne Fraca a assessor de deputado do PMDB

Interceptação telefônica da Polícia Federal, na Operação Carne Fraca, pegou o chefe da Unidade Técnica Regional de Agricultura de Londrina/PR – UTRA/Londrina, Juarez José Santana, reclamando com Heuler Martins, o assessor do deputado João Arruda (PMDB-PR), em 22 de março de 2016, sobre uma ‘fiscalização surpresa’. Na ligação, Juarez Santana pede ao assessor Heuler Martins para ‘o João dar uma chamada’ no fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, que, segundo a investigação, é ‘o que o líder e principal articulador do bando criminoso’.

Juarez Santana foi preso preventivamente na Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira, 17. A operação mira corrupção na Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Paraná (SFA/PR) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No rol de empresas investigadas pela Polícia Federal estão a JBS, dona da Seara e da Big Frango, a BRF, controladora da Sadia e da Perdigão, e os frigoríficos Larissa, Peccin e Souza Ramos. Na lista de irregularidades identificadas pela PF estão o pagamento de propinas a fiscais federais agropecuários e agentes de inspeção em razão da comercialização de certificados sanitários e aproveitamento de carne estragada para produção de alimentos.

Às 12h35, Juarez liga para Heuler e reclama da fiscalização surpresa ‘que Daniel enviou a Londrina’. O chefe da UTRA ‘pede providências e se mostra revoltado com a interferência nas empresas que estão sob sua fiscalização’.

“Ó, o João disse que o baixinho ia assumir lá em Curitiba e não ia ficar perturbando Londrina”, diz Juarez ao assessor de João Arruda. “Armaram uma lá em Curitiba, baixou duas fiscalizações de surpresa aqui em Londrina hoje.”
Juarez prossegue. “Em duas empresas, coisa que não se faz porque normalmente o que que acontece, pessoas vem fiscalização, avisa, até para o pessoal do SIF tá lá, né?”

“Certo”, diz Heuler.

“Para receber os caras, para preparar uniforme para o pessoal entrar na indústria, dar as informações necessárias e por aí vai. Certo?”, explica Juarez. “Aí, é… É… Hoje da manhã baixou duas equipes de fiscalização, inclusive uma, lá no Beto, sabe?”
“Qual? Ah, sei sei”, afirma Heuler.

“Uma empresa que você conhece, pessoal idôneo, sério, trabalhador, né? E sacanagem sabe meu? Porra, o cara, o cara quer sacanear, o cara quer fazer fiscalização de surpresa nas empresas, tudo bem, você pode vir fazer fiscalização, não é isso, não pense que nós estamos querendo impedir, só que ele quer fazer impacto, sabe? Tipo, tipo Operação da Polícia Federal, né?”

“Meu Deus do Céu”, diz Heuler.

“Mas é uma bosta, é um babaca esse cara, sabe? Aí ele armou isso lá em Curitiba e não avisaram ninguém. Aí hoje cedo chegaram nas indústrias, o pessoal de Curitiba, o próprio pessoal da inspeção federal aqui, SIF, que atua nas indústrias, os caras cuidam de outros estabelecimentos, né?”, reclama Juarez. “Estava, em outra empresa, ninguém sabia, pessoal ficou revoltado, indignado, sabe? Que, que fazer um negócio desses, parece que está mexendo com bandido.”

“Nossa”, afirma Heuler.
“Né? Porra. O João precisa dar uma chama nesse cara aí viu Heuler? O que é isso?”, diz Juarez.

Em um trecho seguinte, Juarez Santana diz ao assessor do deputado do PMDB que a fiscalização bateu ‘no Beto e no Frios em Londrina’. “Tá lá o pessoal lá. Aí a gente, hoje aí o pessoal me ligou, né? Porque a gente não está acostumado com isso. Né? Ué, uma falta de ética, de respeito, de educação, entendeu?
“Totalmente”, afirma Heuler.

“Pô, o que é isso? Não, vai lá a fiscalização, tudo bem. Ninguém tá, ninguém quer impedir o trabalho da fiscalização, ninguém quer tolher a fiscalização. Não é isso. Agora, né, não está lidando com bandido, peraí, você não está invadindo o morro da Dona Marte, de Santa Marta lá. Não é o Morro do Alemão que você está subindo, entendeu? Não, não é isso não, meu. Peraí, o que é isso?”, diz Juarez.
“Babaca mesmo. Vamos fazer o seguinte, eu vou, eu vou falar com o João e eu te ligo à noite daí”, afirma Heuler.

Segundo a PF, ‘com frequência’, Juarez Santana mantém conversas ‘que não se relacionam com o objeto desta investigação e que, em princípio, não indicam, chapadamente, a prática de crimes’ com assessores de parlamentares.
“Juarez conversa com Heuler Martins sobre a fiscalização surpresa em fábricas da região de Londrina. Juarez mostra-se mais interessado em ‘ajudar’ as empresas fiscalizadas do que em fazer a fiscalização”, diz a PF.

A reportagem procurou Heuler Martins na liderança do PMDB na Câmara. O espaço está aberto para manifestação.
A reportagem enviou e-mail para as assessorias do deputado citado e também para o Ministério da Agricultura, mas ainda não obteve retorno. O espaço está aberto para a manifestação dos envolvidos.

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DO DEPUTADO JOÃO ARRUDA:

“O deputado João Arruda nega seu envolvimento com qualquer ato ilícito ligado a essa operação . Como o próprio delegado, responsável pela investigação declarou, as conversas onde seu nome é citado são pedidos exclusivamente de caráter político e institucional .

O deputado informa que seu assessor pediu exoneração do cargo e espera o rápido esclarecimento dos fatos . ”

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DO PMDB:

O PMDB não autoriza ninguém a falar em nome do partido e está à disposição da justiça para qualquer esclarecimento.