Certa vez me questionaram qual o motivo para o poder público investir em políticas de esporte e lazer enquanto áreas prioritárias como saúde, educação e segurança pública definham em todo o país. A realidade é que não se pode mais focar em política pública isolada e um retorno concreto para a sociedade necessita de ações intersetoriais que se completam e permitam maior capilaridade no atendimento a população.
Apesar disso, políticas intersetoriais no esporte ainda são algo raro de se encontrar, sendo muito mais comum verificar ações isoladas realizadas em parcerias que buscam alcançar apenas um propósito específico.
Atualmente as políticas de Esporte e Lazer se concentram em repasses de materiais, campanhas de incentivo, benefícios fiscais e realização de eventos. São ações válidas, mas que necessitam também de programas, projetos e unidades que garantam o acesso a iniciação esportiva, a prática de atividades físicas e recreativas e o encaminhamento para o alto rendimento de forma que contribuam para o desenvolvimento humano e social.
Mudar isso e alcançar uma intersetorialidade que busque desenvolver programas e projetos que visem garantir maior universalidade de serviços exige escapar do atual modelo de gestão. Trabalhos integrados requerem maior diálogo para criação de estratégias, capacidade de gerir ações coletivas e reconhecimento de diferenças para encontrar soluções alternativas que resultem em uma política pública ampla, transversal e descentralizada, tanto junto aos diferentes órgãos públicos quanto iniciativa privada e entidades/clubes.
Em um período de crise financeira que afeta diretamente a capacidade de investimento dos municípios, o fortalecimento da intersetorialidade é fundamental para a melhoria dos serviços públicos. Esse foi um dos maiores desafios que o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, fez aos seus secretários quando os convidou e também foi um dos motivos para que eu aceitasse assumir a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ).
Muito mais do que um direito assegurado por Lei, as políticas de Esporte e Lazer representam uma ferramenta de inclusão, reinserção e prevenção que afeta diretamente a melhoria de índices da saúde, educação e segurança do município, bem como fomenta a economia local com geração de emprego e renda para a população.
Porém, para conseguir alcançar esses resultados, é preciso atuar em sintonia com outras secretarias, sendo que possibilidades não faltam. Um trabalho intersetorial do Esporte e Lazer com a Educação no objetivo de ampliar as ações em período de contraturno escolar possui potencial para aumentar o alcance, disseminação de valores éticos e morais, iniciação a prática esportiva, incentivo aos estudos, desenvolvimento físico e socialização. Um exemplo de programa contínuo, descentralizado, promovido com uma metodologia construída em conjunto e realizado com profissionais e unidades de ambas as secretarias.
Na saúde o mesmo pode ser aplicado, com uma interação constante entre as secretarias, sociedade civil e entidades para a realização de ações e programas que visem à prevenção, especialmente em problemáticas detectadas com maior frequência no município.
Logicamente que defender o fortalecimento do trabalho intersetorial é mais fácil do que realizá-lo, uma vez que para alcançar isso é necessário uma quebra de paradigma político e que os setores da gestão pública trabalhem como um todo, com sintonia, debate técnico e diálogo constante para atender as demandas e características identificadas em cada região. Sem dúvidas é um dos maiores desafios dos atuais e futuros gestores para superar os obstáculos e conseguir promover políticas públicas mais eficientes e objetivas.
(*) Marcello Richa é secretário de Esporte de Curitiba
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