Ricardo Noblat
No país que considera a jabuticaba uma coisa só dele, haverá mais uma da qual se orgulhar: a presidente da República afastada do cargo por um “golpe” que comparece ao ato final do seu suposto julgamento para se defender.
Se ela sair de lá absolvida, dirá que o “golpe” fracassou. Ou que ela derrotou o “golpe”. Se sair sem o mandato e com os direitos políticos suspensos por oito anos, dirá que foi vítima de um “golpe” aplicado pelas forças mais conservadoras do país.
Dilma cedeu à pressão dos seus principais conselheiros e anunciou que irá ao Senado defender sua inocência depois de se decepcionar com a má repercussão da carta que mandou aos senadores negando o crime de ter gasto muito além do que o Congresso autorizara.
É desse crime que ela é acusada, e somente dele. Outros governantes já incorreram no mesmo crime em proporções muito menores, mas contaram com apoio político para permanecer no cargo. Dilma, não. Ela jamais cultivou o apoio dos políticos a não ser para se eleger.
“Um governo que não tenha 172 votos de um total de 513 na Câmara dos Deputados não merece continuar governando”, comentou em março último um dos principais auxiliares de Dilma a propósito do processo de impeachment. Foi o que aconteceu.
Com 172 votos, o impeachment teria sido derrotado. Pois bem: o governo só conseguiu 137. No Senado, para que o processo, ali, fosse admitido, seriam necessários 54 votos de um total de 81. O processo foi admitido com 55 votos. O governo só atraiu 22 votos.
Na Comissão Especial do Senado, o governo foi derrotado por larga margem de votos ao tentar barrar o parecer que recomendava o impeachment de Dilma. Para novamente ser derrotado no plenário que aprovou o parecer por 55 votos contra 21.
Dilma não tem a mais remota esperança de que possa se salvar quando tiver início no próximo dia 25 o último ato do seu julgamento. Ela só mira a História. Quer passar à História como alguém que se defendeu até o fim e que acabou injustiçada.
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