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Passarinho que come pedra

Passarinho que come pedra

Fábio Campana

Passarinho que come pedra não pode reclamar dos efeitos colaterais, diz o dito popular muito citado pelos políticos nativos em formulação mais chula. O PT no poder confiou na impunidade e chafurdou na corrupção com uma soberba típica de alpinistas sociais bem sucedidos. Foram 12 anos de glórias, retaliações e sublimação de ressentimentos que explicam nosso atraso e a patologia social que marca o comportamento petista.

Queixo empinado, prontos para processar jornalistas, Lula, Dilma, o PT, seus epígonos e seus sócios, acreditaram que controlavam os parlamentos pela distribuição de propinas, o Judiciário pela troca de favores e nomeações, a polícia pela condição de organismo de Estado que lhe devia subserviência, e a mídia pela dependência financeira. Naufragou nessas ilusões quando o seu modelo exauriu todas as reservas e todas as esperanças.

A época das vacas magras chegou e com ela a desmoralização da farsa petista. Bastou que um juiz se enchesse de coragem e bancasse a delação premiada como método para investigar com rapidez e eficiência os intestinos do poder lulista e expusesse o inacreditável esquema de corrupção usado para enriquecer os emergentes petistas e para financiar sua reprodução no poder.

Hoje, o PT é um partido no poder que já não controla, com sua presidente da República a correr o risco de impeachment, seu presidente de honra e criador, o ex-presidente Lula, sob investigação policial, a maioria de seus membros mais destacados na cadeia, ao lado de seus sócios nos negócios espúrios que conseguira, entre outras, aniquilar uma estatal como a Petrobras através de negociatas como a da compra de uma refinaria falida em Pasadena, EUA.

O PT já não tem discurso, não sabe o que dizer para justificar a crise política, econômica, social e moral sem precedentes que produziu ao levar à prática todos os equívocos acumulados pela concepção esclerosada e esclerosante de um nacionalismo estatólatra que sobrevive apenas nas áreas mais atrasadas do planeta.

Sob a direção do PT, o país perdeu todas as oportunidades que a conjuntura internacional favorável lhe ofereceu na última década. O populismo petista fez sucesso ao expandir o crédito e o consumo para criar uma falsa sensação de prosperidade, Segurou os preços administrados das tarifas públicas. Investiu pesado na filantropia estatal para garantir bases eleitorais permanentes. Nenhuma originalidade. O populismo latino-americano, hoje consagrado nas cartilhas bolivarianas, sempre fez isso. A vocação dos nativos de esquerda e direita fieis à veia autoritária, faria corar o pândego Mussolini.

Agora, no fundo do poço, testemunhamos o bate boca entre a tigrada do PT e a caterva do PMDB e seus sócios nas falcatruas. Já não se entendem. Ninguém quer largar o osso. Patética, a esquerda funcionária, que adquiriu alma de trombadinha e fez da sinecura seu meio de vida, se desespera com a possibilidade de perder as benesses. Esperneia contra o impeachment, acusa os adversários de golpismo, Tenta fazer pose de vestal e invoca os interesses do proletariado. Lula, o farsante, retoma o discurso maniqueísta do bem contra o mal. Ópera bufa que encobre nossa triste realidade. A de um povo condenado a amargar anos de depressão econômica, de atraso intelectual, de regresso espiritual às cavernas. É o que nos espera. Oremos.