O ex-presidente da CBF José Maria Marin, 83, embarca de Zurique, na Suíça, para os EUA no máximo até a próxima quarta-feira (4). A defesa dele, porém, acredita que a viagem aconteça já nesta terça (3) se toda a documentação estiver finalizada até o início da noite no país europeu (tarde no Brasil).
Seus advogados dizem não saber exatamente o horário. Afirmam que serão avisados horas antes, mas sabem que a viagem deve acontecer realmente na terça, no máximo quarta pela manhã da Suíça.
Marin aceitou ser extraditado para responder a processo nos EUA. Ele deve viajar em um voo comercial, sob a escolta de policiais do FBI (polícia federal dos EUA). É praxe, nesses casos, viajar algemado.
Marin está preso em Zurique desde o dia 27 de maio, acusado pelas autoridades americanas de envolvimento em um esquema de corrupção relacionado a direitos de transmissão e marketing de competições. Ele foi detido com outros seis cartolas em uma operação na véspera do congresso da Fifa.
O cartola concordou na terça (27) em ser transferido para o território americano. Os advogados do cartola negociam há meses com as autoridades americanas uma espécie de prisão domiciliar, mediante a fiança, enquanto o brasileiro responde às acusações. Por ter imóvel em Nova York, ele tentaria obter o mesmo benefício dado ao ex-presidente da Concacaf, Jeffrey Webb, que aceitou ser transferido para os EUA em julho. Conforme a Folha mostrou, a fiança pode chegar a pelo menos US$ 7 milhões.
O governo suíço já havia aprovado a extradição de outros cinco cartolas presos na mesma operação: o costarriquenho Eduardo Li, o venezuelano Rafael Esquivel, o britânico Costas Takkas, o uruguaio Eugenio Figueiredo e o nicaraguense Julio Rocha.
O escândalo levou à renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, no dia 2 de junho, e à convocação de novas eleições na entidade em fevereiro de 2016. Suspeito de envolvimento na investigação conduzida pelos americanos, o presidente da CBF, Marco Polo del Nero, tem evitado deixar o Brasil, temendo ser alvo de um pedido de prisão no exterior.
Responsável pela defesa de Marin em Berna, o advogado suíço Georg Friedli invocou a proteção do ex-presidente da CBF para não emitir comentários sobre os termos do acordo que levou o cartola a abandonar a contestação da extradição para os Estados Unidos.
Em e-mail à Folha, Friedli disse que não comentaria se Marin passaria à condição de delator do esquema de corrupção na Fifa, nem se ele aceitou pagar multa em troca de responder às acusações nos Estados Unidos em regime de prisão domiciliar mediante pagamento de multa.
Com a súbita aceitação da extradição para os Estados Unidos, Marin segue o mesmo caminho do ex-presidente da Concacaf e um dos vices da Fifa, Jeffrey Webb, que em julho foi transferido para o país.
Webb, que já se declarou inocente das acusações de corrupção e lavagem de dinheiro perante um juiz de Nova York, aceitou um acordo no qual pagou US$ 10 milhões (R$ 38,6 milhões, pela cotação desta quarta) para ficar em prisão domiciliar.
Pelos termos do acordo, Webb teve de alugar uma casa a menos de 20 milhas (32 km) do tribunal em Nova York e pagar, ele próprio, por uma empresa privada de segurança para monitorar o uso de sua tornozeleira eletrônica 24 horas por dia. Marin é dono de um apartamento em Nova York.
OUTRO LADO
Desde que foi preso na Suíça, em maio deste ano, Marin nunca falou à imprensa, nem por meio de comunicados, sobre as acusações de que integrou esquema de corrupção para a negociação de contratos envolvendo torneios organizados pela Conmebol e pela CBF.
Seus advogados, no entanto, têm dito que que são frágeis as supostas provas apresentadas à Justiça suíça pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que investiga o caso. Alegam que no pedido de extradição não há revelações concretas de que o dirigente cometeu os crimes.
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