Josias de Souza
Num instante em que o vice-presidente Michel Temer dá por encerrada sua missão como articulador político do governo, o PMDB marcou para 15 de novembro o congresso partidário no qual se distanciará da aliança política com o PT. A data está impregnada de simbolismos. Festeja-se nesse dia a proclamação da República, que derrubou em 1889 o imperador Pedro II. Foi também num 15 de novembro que Joaquim Barbosa, ainda na pele de relator do mensalão, mandou para a cadeia em 2013 os condenados do mensalão.
Durante o seu Congresso, o PMDB atualizará o estatuto, aprovará um novo programa e formalizará sua decisão de lançar um candidato à Presidência em 2018, quebrando um jejum de eleições presidenciais que já dura 21 anos. “Vamos apresentar a nossa proposta”, diz o ex-ministro Moreira Franco, hoje presidente da Fundação Ulysses Guimarães, que organiza o encontro. “Não dá mais para o PMDB ficar num papel subalterno, resolvendo problemas dos outros. Com nossa experiência acumulada, queremos apresentar um projeto para o Brasil.”
Estima-se que participarão do Congresso algo como 4 mil peemedebistas de todo país. Qualquer um poderá reivindicar a votação de moções. Conforme já noticiado aqui, o presidente do diretório da Bahia, Geddel Vieira Lima, deseja, por exemplo, que o partido se afaste do governo. “Não dá mais para uma banda do PMDB, cujos interesses não coincidem com a vontade das ruas, ficar falando como se fosse o PMDB inteiro. Isso não representa o partido. Falam pelos plenários do PMDB até que eles se rebelem. […] Aguardamos o Congresso do partido.”
Na Câmara, um grupo de dissidentes do PMDB já discute a hipótese de se juntar à oposição num movimento suprapartidário pelo afastamento de Dilma da Presidência da República. Algo que guindaria o vice Michel Temer à poltrona de presidente. Mas os organizadores do Congresso evitam vincular o encontro à agenda dos defensores do impeachment. O blog perguntou a Moreira Franco se a hipotética ascenção de Temer alteraria os planos do PMDB. Ele disse que não costuma raciocinar com base em hipóteses.
Ante a insistência do repórter, Mareira respondeu assim: “Em política só se deve trabalhar com fatos. E o fato hoje é os seguinte: vamos ter eleições municipais no ano que vem e eleição nacional em 2018. E o PMDB trabalha para ter um bom desempenho nessas duas eleições. Ponto. Aí você levanta uma hipótese. O que posso te responder, objetivamente, é que uma coisa como essa [o impeachment e a consequente substituição de Dilma por Temer] teria consequências em toda a vida política do país. Mas não tenho como dizer o que vai acontecer.”
Moreira diz trabalhar com coisas concretas: “Nossa pauta agora é eleição municipal de 2016, a disputa nacional de 2018, o programa, o estatuto, a organização do Congresso e o restabelecimento de canais de comunicação com a militância. Vamos coibir um hábito que está transformando o partido, em muitos lugares, num grande cartório, com comissões Executivas provisórias. Vamos preparar o partido.”
Presidido por Temer, o PMDB enxerga 2016 como um degrau para 2018. Equipa-se para lançar candidatos próprios nas capitais e nas cidades de porte médio. Hoje, o partido governa apenas duas capitais: Rio e Boa Vista. “É pouco para quem quer ter candidatura competitiva à Presidência da República”, raciocina Moreira Franco. “Queremos candidaturas próprias, com a cabeça de chapa do PMDB.”
Indagado sobre a aliança com o PT, Moreira Franco evocou uma resposta de Juscelino Kubitschek a um grupo de repórteres: “Quando foi candidato a presidente, Juscelino deu aos jornalistas que lhe perguntaram se ele aceitava votos de comunistas a seguinte resposta: ‘Eu estou preocupado em saber quem terá o meu voto. Quem vota em mim é porque me considera a melhor alternativa.”
Deixe um comentário