Ricardo Noblat
A acreditar-se em José Eduardo Cardoso, ministro da Justiça, ele, a presidente Dilma Rousseff e o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), tiveram “um encontro casual” no início desta semana na cidade do Porto, em Portugal. Sim, “casual”.
Foi o que Cardoso garantiu ao jornalista da Globo News Gerson Camaroti, que soube do encontro e publicou a notícia em seu blog. Segundo Cardoso, Lewandowski pediu para ver Dilma. Ele participava de um evento jurídico na cidade portuguesa de Coimbra.
Ao saber que o avião que transportava Dilma e comitiva para a cidade russa de Ufá faria uma escala técnica no Porto, cidade próxima de Coimbra, Lewandowski manifestou seu desejo de se reunir ali com a presidente da República para discutirem o aumento do Judiciário.
Recentemente, o Congresso aprovou um aumento para o Judiciário que o governo diz não ter como pagar. Cardoso jura que a reunião a três não serviu para que conversassem sobre a Operação Lava Jato, conduzida pelo juiz Sérgio Moro, e que investiga a roubalheira na Petrobras.
Dilma, Lewandowski e Cardoso discutiram, sim, a Operação Lava Jato. O empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, confessou ter dado dinheiro sujo para a campanha de Dilma à reeleição. Dilma nega, mas está preocupada com o que possa acontecer se isso acabar provado.
Da Operação Lava Jato, os três passaram a avaliar as chances de um pedido de impeachment de Dilma. Por falhas, o Tribunal de Contas da União poderá rejeitar as contas do governo de 2014. E o Tribunal Superior Eleitoral concluir que houve abuso de poder econômico na campanha de Dilma.
Os jornalistas brasileiros destacados para cobrir a viagem de Dilma à Rússia não foram informados sobre o encontro dela no Porto com Lewandowski. Muito menos os que ficaram aqui. O encontro não constou da agenda oficial de Dilma.
Na verdade, o governo transparente de Dilma nada tem de transparente. É um abuso que dois chefes de poderes se encontrem às escondidas no exterior. E para examinar a delicada situação política de um deles. Os dois pisaram feio na bola. Apostaram que ninguém ficaria sabendo do encontro.
Lewandowski preside a mais alta corte de Justiça que poderá ser provocada, em breve, a decidir se procede ou não um eventual pedido de impeachment da presidente da República. Deveria ter se julgado impedido de se reunir para discutir o assunto com uma das partes interessadas. E logo no exterior. E às escondidas.
Basta lembrar que Lewandowski deve parte de sua indicação para o STF à família de dona Marisa, mulher de Lula, a quem sempre foi muito ligado. De resto, Lewandowski tudo fez para melhorar a sorte dos mensaleiros que acabaram condenados pelo STF.
É compreensível que Dilma tema por seu futuro. Mas não que contribua para emporcalhar a imagem do cargo que ocupa.
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