Alta dos preços surge como uma das maiores preocupações dos brasileiros, e projeções para este ano ainda indicam cenário ruim
Editorial, Folha de S. Paulo
Enquanto grande parte do mundo flerta com a possibilidade de deflação ou, no mínimo, com a menor inflação das últimas décadas, o Brasil continua fiel a sua tradição de preços sempre em alta. O problema se agrava a ponto de o tema subir vários degraus na lista de preocupações dos brasileiros.
Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria sobre prioridades para o país, com 2.002 entrevistados, o controle dos preços passou da décima colocação, em 2012, para a segunda em dezembro passado, ao lado do combate à criminalidade e atrás apenas da melhoria dos serviços de saúde.
A aceleração da inflação de fato é um grande destaque negativo da gestão econômica no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT). Nos últimos anos, a alta dos preços tem ficado sempre acima do centro da meta (4,5%), na maior parte do tempo próxima do teto (6,5%).
Pior, o governo não passou a sensação de que dedicava atenção ao assunto. Ao contrário, sempre buscou justificativas para adiar a adoção das medidas necessárias, na crença de que as razões para a escalada de preços eram passageiras.
Ao proceder assim, sedimentou na sociedade a expectativa de altas cada vez maiores, o que aumenta o custo social de fazer a inflação retornar à meta. Afinal, quando empresas e trabalhadores contam com a elevação dos preços, tendem a corrigi-los mais depressa e a pedir reajustes salariais maiores.
Para serem convencidos a não fazê-lo, impõe-se uma desaceleração mais forte do que a necessária se a meta tivesse credibilidade.
Reduzir a inflação e as expectativas de longo prazo, assim, é tarefa crucial do governo –e, felizmente, os primeiros passos estão sendo dados. No horizonte próximo, o maior controle das contas públicas reforçará a confiança e, ao longo do tempo, minimizará impactos nos preços.
Já o fim do represamento artificial das tarifas, por pior que seja num contexto recessivo, é essencial para alinhar preços e aumentar a credibilidade da meta de inflação.
Dado o tamanho dos problemas acumulados, o custo imediato será elevado. Os preços administrados como um todo devem subir 10% neste ano, o que levará a inflação a superar 7%, segundo a mais recente estimativa de analistas privados consultados pelo Banco Central.
A conquista da credibilidade envolve um jogo de longo prazo, mas, se o governo persistir no ajuste, não tardará para que as expectativas de inflação se alinhem melhor à meta.
Um primeiro sinal já aparece na mesma pesquisa do BC –desde meados de janeiro, quando se iniciou a inflexão da política econômica, houve pequena melhora nas projeções para o triênio 2016-2018.
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