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Zola Florenzano, marco da resistência, vira mulher em obiturário da Gazeta do Povo

Zola Florenzano, marco da resistência, vira mulher em obiturário da Gazeta do Povo

do Aroldo Murá

Quando mais se espera do jornalismo profissional, como contraposição a uma certa farra do amadorismo das “redes”, as surpresas podem chegar. Como aconteceu ontem, domingo, quando a coluna de obituário do mais impoprtante jornal de Curitiba, Gazeta do Povo, “enterrou” o brigadeitro Zola Florenzano, 101, classificando-o como mulher, apresentando-o como “funcionária pública federal”.

É isto que dá: páginas de obrituários têm de ser feitas – como a do New York Times – por profissionais que, pelo menos, conheçam a realidade da história próxima da cidade e do país.

Pois anote-se: a “Zola Florenzano”, “funcionária pública” foi um dos nomes mais respeitados da resistência à ditadura militar. Por isso, teve sua patente de oficial da FAB cassada, foi preso, sofreu humilhações extensivas à família. Além do notável espírito libertário de Zola Florenzano, autor de vários livros de qualidade – leitura pesada – sobre marxismo e materialismo científico, o brigadeiro da reserva da FAB era conferencista sempre solicitado e dono de uma memória privilegiada. Conhecia todos os escaninhos da vida militar brasileira do século 2o.

Zola, com a anistia, recuperou os direitos civis e teve acesso ao posto de brigadeiro. Foi pai do jornalista Emílio Zola Florenzano, por anos editor do Diário do Paraná, introdutor das primeiras publicações sobre jornalismo no Brasil (Cadernos de Jornalismo do JB) e também do publicitário Rogério Florenzano, que por 20 anos dirigiu o Departamento Comercial do diário Gazeta do Povo, de Curitiba.