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Prestes a deixar a base governista, PSC pretende lançar pastor que apoiou Feliciano à presidência

Luciana Lima
iG Brasília

Enquanto os líderes da Câmara e a própria presidência da Casa se debatem sobre a permanência do deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), parte expressiva do PSC, o próprio deputado e a chamada bancada evangélica compartilham a sensação de multiplicar seus votos nas próximas eleições, a cada “fico” anunciado pelo deputado.

De acordo com integrantes do partido, espera-se que Feliciano chegue a um milhão de votos na próxima eleição, tornando-se um dos principais puxadores de votos do partido em São Paulo. O efeito dessa votação é considerado pela cúpula do PSC como um verdadeiro combustível para a candidatura presidencial que o partido pretende lançar em 2014 do pastor Everaldo Pereira (SP).

Atualmente, o PSC faz parte da base governista, mas não tem cargos. Para justificar o rompimento com a presidente Dilma Rousseff, o partido ensaia o discurso de que o Planalto interferiu diretamente para tentar convencer o partido a retirar a indicação de Feliciano para a presidência da comissão.

O PSC alega que duas ministras de Dilma telefonaram para o líder do PSC na Câmara, André Moura (SE) e para a deputada Antônia Lúcia (AC), que é vice de Feliciano no comando da comissão, pedindo que o nome fosse trocado. “Com isso, Dilma nos disse que não quer o PSC em 2014”, sustenta Everaldo Pereira.

Os telefonemas teriam sido feitos pela ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, e Ideli Salvatti, da Secretária de Relações Institucionais. O governo nega a interferência.

Articulação
Pereira é o principal apoiador de Feliciano. Na reunião em que se decidiu pela indicação de Feliciano para a presidência da comissão, Pereira bancou o nome do colega sobrepondo-se ao do deputado Zequinha Marinho (PA), que seria o indicado natural do partido.

Outro articulador da ascensão e permanência do Pastor Marco Feliciano na comissão é o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), pessoa próxima do pastor Everaldo. Cunha e Everaldo já dividiram apartamento funcional em Brasília e os dois têm ligação com a Rádio Melodia FM, estação gospel e principal veículo de divulgação dos ideais evangélicos.

Há pouco mais de um mês, Feliciano era um ilustre desconhecido no meio político. Apesar dos seus 212 mil votos que o levaram à Câmara, habitava o chamando baixo clero. Em seus dois anos de mandato, não chegou a fazer parte, por exemplo, da lista “Cabeças do Congresso”, editada anualmente pelo Departamento Sindical de Assessoria Parlamentar (Diap). O órgão lista os 100 parlamentares mais influentes.

Dificilmente Feliciano ficará de fora dessa lista neste ano, não por projetos de sua autoria ou relatorias importantes, mas principalmente pelo volume de suas citações na imprensa, critério também considerado pelo Diap.

Em São Paulo, o PSC tem experimentado uma verdadeira corrida por filiações e uma disputa pelas vagas de candidato a deputado federal. Como ainda não venceu o prazo de filiações, Pastor Everaldo tem feito segredo do número de pessoas que procuraram o partido, mas garante que após a chegada de Feliciano à comissão essa procura aumentou bastante.

Ironia
O presidente do diretório de São Paulo, Gilberto Nascimento, avaliou que a votação de Feliciano deve mesmo ser muito maior, mas que há também quem tem feito palanque no combate ao pastor. “Como ele, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) também deverá ter muito mais votos”, avalia.

Ironicamente, a escolha do nome de Feliciano, segundo Nascimento, foi “lançada” pelo deputado Jean Wyllys, ativista da causa gay e principal adversário do pastor na Câmara. “Assim que a presidência da comissão ficou definida para o PSC, deputados foram ao plenário falar sobre o risco de Feliciano assumir a comissão. Entre eles, o Jean Wyllys, o Chico Alencar, o Ivan Valente. O Jean Wyllys foi o primeiro a falar no nome do Feliciano. O partido ainda nem tinha pensado nisso”, disse Nascimento