por Sérgio Alpendre
Após o grande sucesso de “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro”, estreia “Segredos da Tribo”, documentário realizado por José Padilha logo após “Garapa” e exibido, em 2010, no Festival de Sundance e no É Tudo Verdade. Em foco, os índios ianomâmis, seus mitos e costumes, e os conflitantes trabalhos de antropólogos que os estudaram desde os anos 1960.
Logo no início, o filme busca o choque entre lados opostos. Primeiro um índio pede para que os antropólogos desapareçam das terras ianomâmis. Depois um palestrante diz que não há concordância possível entre antropólogos, e que um deles, o norte-americano Napoleon Chagnon, distingue-se por ter sido acusado de genocídio.
O que vem a seguir é uma batalha de egos entre os antropólogos, que verbalizam de maneira despudorada, trocando denúncias que vão de pedofilia à manipulação de dados.
PIONEIRO
Chagnon foi pioneiro nos estudos dos ianomâmis. Por isso seus escritos foram durante muito tempo de grande influência para outros cientistas. Em 2000, um livro inicia a controvérsia em torno de suas pesquisas, forçando sua aposentadoria precoce.
Segundo seus detratores e alguns ianomâmis, Chagnon, acompanhado de um médico, teria negligenciado a possibilidade de contágio por sarampo em uma aldeia na Amazônia venezuelana. Ele se defende, mas não há um veredito.
Formalmente, “Segredos da Tribo” é um documentário convencional. Imagens de arquivo e entrevistas com estudiosos se alternam de maneira jornalística e investigativa.
Estamos longe do instigante cinema-verdade de Jean Rouch (de “Jaguar”) ou dos ensaios filmados de Andrea Tonacci (de “Serras da Desordem”).
Mas, se é cauteloso na estética, é destemido no registro dos entrevistados. Sobram farpas para todos os lados, e a edição se encarrega de apimentar as acusações inserindo os rostos dos acusados.
Tal procedimento faz com que o filme se mantenha distante da zona de conforto que abriga boa parte dos documentários brasileiros recentes.
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