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Brasil exporta ajuda humanitária

País investiu em 2010 R$ 1 bilhão em cooperação técnica com outras nações, quase um terço do total gasto em 5 anos

por Paola Carriel, na Gazeta do Povo

Um efeito colateral do crescimento econômico brasileiro é a mudança de posição no universo da ajuda humanitária. Gran­de receptor de recursos dos países ricos, o Brasil passou nos úl­­timos anos a enviar mais dinheiro para fora. O governo federal gastou, somente em 2010, R$ 1 bilhão em cooperação técnica com outras nações.

O valor é cerca de um terço do total investido em cinco anos, entre 2005 e 2009, aproximadamente R$ 2,8 bilhões. Os dados foram levantados em um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Apli­­cada (Ipea), que em março deve divulgar a análise completa sobre 2010.

Coordenador do estudo do Ipea, João Brígido Bezerra Lima explica que as ações do Brasil não envolvem a doação direta de recursos para outros países. O foco é a partilha do saber técnico que algumas áreas do governo federal conseguiram adquirir. Os servidores brasileiros são enviados a outros países para orientar ações em suas áreas de conhecimento.

O Brasil, por exemplo, fortaleceu ações na área da saúde, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e da agricultura, com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Em­­brapa). O objetivo é ampliar as relações externas. “É a transferência de um saber sem transferência direta de recursos”, diz Lima.

Por meio dessa política, o Brasil conseguiu ajudar projetos de reestruturação do Haiti, socializando o know how obtido para superação da pobreza. “Passamos a ser referência na cooperação para o desenvolvimento econômico. Há hoje uma forte organização para a internacionalização de organismos brasileiros”, analisa o pesquisador do Ipea.

O órgão consultou a dotação orçamentária de todos os ministérios com o objetivo de retratar o investimento brasileiro. Para a elaboração do relatório de 2010, 285 servidores federais participaram do levantamento de informações, o que deve ser feito anualmente a partir de 2011. As decisões estratégicas sobre o tipo de cooperação e os futuros parceiros passam pelo crivo da Agência Brasileira de Coopera­ção, ligada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). A perspectiva agora é ir até os países cooperados e ver quais os efetivos resultados alcançados.

Diplomacia

Para a pesquisadora Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o aumento da cooperação internacional é reflexo da mudança do perfil da política externa brasileira. “Há também a ampliação de recursos disponíveis, em função da estabilidade econômica”, completa. Cristina avalia que esta é uma forma de consolidar a posição do país no campo diplomático. “Traz ganhos reais, porque mostra que somos capazes de agregar outras nações de maneira positiva”, analisa.

No cenário internacional o país constrói uma imagem positiva, porque os gastos são com cooperação e não com guerras, por exemplo. “Há reforço do prestígio brasileiro no sistema internacional e a troca de experiências também propicia aprendizado”, avalia a professora de relações internacionais.

A Embrapa é um dos órgãos do governo que mais recebe solicitações para atuar em cooperação técnica. As pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas, que ajudaram a aumentar a produtividade no campo brasileiro, são o chamariz para países que querem “turbinar” a agricultura. Antônio Carlos Prado, coordenador de cooperação técnica da Secretaria de Relações Inter­nacionais da Embrapa, conta que na África há um importante projeto para melhorar a produção de algodão. Os pesquisadores estão verificando se a variedade de algodão desenvolvida pela Embrapa poderia ter a mesma performance em nações africanas.

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