Esse movimento de atores da TV Globo contra a usina de Belo Monte presta um desserviço ao Brasil. Faz o modismo da hora e mais desinforma do que informa.
A energia é a questão central em todo o debate sobre desenvolvimento e meio ambiente, e não é assim simples para ser resumida em um vídeo com atores descolados, e um texto ágil e bem editado, porém com uma mensagem que só convence aqueles que não entendem a complexa questão da energia no mundo atual.
Dizer que preferem energia eólica à Belo Monte, como sugere um dos atores. Ora! É só fazer a conta para descobrir a quantidade absurda de aerogeradores que seriam necessários para igualar a produção de energia de Belo Monte. E cobrir uma paisagem inteira de ventiladores gigantes não gera impactos ambientais? E como ficam as rotas das aves migratórias?
Convenhamos, seria praticamente inviável colocar um parque industrial dependendo de energia eólica pra funcionar, porque energia eólica não tem como ser armazenada, como se faz com a energia hidráulica (em que a energia é armazenada na forma de água, mas como armazenar o vento?).
Trecho de artigo do jornalista Gilmar Piolla. Clique no “mais” e leia sua íntegra
E se parar de ventar, vamos todos soprar pra gerar energia? Isso para não falar nos custos de produção, quatro ou cinco vezes maiores, já que se trata de uma tecnologia importada. Mesmo assim, o Brasil tem avançado muito na exploração de energia eólica. É um dos sistemas mais competitivos do mundo e não depende de subsídios do governo para se viabilizar, como em alguns países como a Espanha, por exemplo.
Um dos golpes baixos do vídeo é dizer que Belo Monte não vai gerar o ano inteiro. Ora, isso é justamente para atender a critérios ambientais. A usina poderia gerar o dobro de energia se optasse pela formação de um imenso reservatório. Mas para poupar florestas, será uma geração a fio d’água. Com isso, a área de alagamento foi reduzida em 60%.
Falando em florestas, Belo Monte terá uma área de preservação permanente de aproximadamente 1 milhão de hectares, próximo às terras indígenas, área que equivale a quase duas vezes o território do Distrito Federal. É de se perguntar se o agronegócio pouparia tal território na Amazônia.
Belo Monte não irá alagar terras indígenas, que estão a montante da barragem. Nenhuma aldeia será realocada. Além disso, existe o compromisso de não criar nenhum novo empreendimento a montante, justamente para não prejudicar terras indígenas.
Não existe sociedade moderna sem energia, assim como não existe atividade humana sem impacto ambiental. O Brasil cresceu bastante nos últimos anos, mas ainda há muita desigualdade. O país precisa colocar uma Itaipu a cada dois anos (ou 7.000 megawatts ao ano) em seu parque gerador se um dia quiser ter uma sociedade mais justa e mais igualitária.
E quando se melhora a renda de uma família miserável, o que acontece? As pessoas compram geladeira, ferro de passar, ventilador… E quem já tem isso? Compra ar condicionado, computador etc. Ou seja, o futuro é eletrointensivo. A não ser que a sociedade brasileira não queira evoluir e não queira os confortos da vida moderna, então pode abrir mão de Belo Monte.
Pêra aí, gente! Levamos mais de 500 anos para ser o País do futuro e quando estamos prestes a ingressar nesse novo tempo, vêm nos dizer que devemos continuar reféns do atraso, da dependência e do subdesenvolvimento? É muito fácil para a atriz carioca, no seu apartamento climatizado na Barra, utilizando seu Ipad, dizer que não quer Belo Monte.
Mas a verdade é que não há como ter um sistema elétrico robusto e confiável sem grandes unidades geradoras. E unidades que proporcionam essa confiança são as hidrelétricas e as usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis e nucleares.
O Brasil fez uma opção acertada pelas hidrelétricas, pois essas não geram gases do efeito estufa como as térmicas a gás, diesel e carvão. Se, no lugar de Belo Monte, o Brasil optasse por gerar a mesma quantidade de energia em uma térmica a gás, iria lançar 16 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
Além disso, a hidreletricidade é capaz de viabilizar outras fontes renováveis como solar e eólica, como vem ocorrendo no Brasil. Isso para não falar da complementariedade entre o regime de chuvas e o de ventos, dando uma combinação muito eficiente entre a geração hidrelétrica e a eólica.
Enfim, é um assunto que rende muito debate e há muita informação na internet para quem quiser se aprofundar e entender melhor o tema. A sociedade brasileira empregaria melhor a sua “energia” se, no lugar de tentar barrar o empreendimento, cobrasse do governo para que todos os compromissos sociais e ambientais de Belo Monte sejam cumpridos.
* Gilmar Piolla é jornalista e superintendente de Comunicação Social da Itaipu Binacional.
Parabéns pelo texto, que tem uma postura conciente, com um tom informativo e responsável.
wwww.holtz.com.br
gostei desta parte do comentário do amigo Piolla:
A sociedade brasileira empregaria melhor a sua “energia” se, no lugar de tentar barrar o empreendimento, cobrasse do governo para que todos os compromissos sociais e ambientais de Belo Monte sejam cumpridos.
Muito bem colocado…