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Festivais não respeitam os artistas brasileiros – por Lobão

O que ocorre nos bastidores dos festivais de rock realizados no Brasil? Como estão sendo negociadas as atrações brasileiras? Quais os reais critérios para a inclusão de artistas nacionais no line-up? Por que o tratamento ostensivamente inferior dado aos nomes locais, com cachês pífios, horários de visibilidade insignificante e separação visível dos estrangeiros?

São perguntas que, infelizmente, não temos condições de responder, em virtude do silêncio perpetrado pelo medo da retaliação e pela humilhação ditada por diretrizes indecifráveis desses festivais. Então, por que insistem em nos convidar para uma festa cuja porta de entrada é dada sempre pelos fundos? Por que o brasileiro costuma se meter nessas roubadas anunciadas? Será que existe por aí uma lei que os obrigue a nos contratar?

Trecho do artigo de Lobão. Leia a seguir a sua íntegra.

Fui contatado para participar da primeira versão brasileira do Lollapalooza, algo que me deixou muito feliz, pois trata-se de um evento realizado e concebido por músicos, colegas que admiro, dando enfoque a produção musical mais criativa.

Para meu espanto e tristeza, soube, por intermédio de seu representante no Brasil, que o critério de escolha dos horários dos shows era por nacionalidade: os brasileiros foram todos inseridos das 10h às 15h (eu teria o “privilégio” de fechar esse programa, tocando das 14h às 15h).

Confesso que ainda consegui me surpreender com a novidade. Perguntei ao empresário por que não havia um critério pelo mérito de cada artista, das proximidades dos estilos de cada dia de apresentação, e ele me respondeu que o modelo do festival era “os gringos mandam e o sistema é muito rígido; é isso ou é nada… é pegar ou largar”.

Sempre imaginei que eventos dessa natureza tivessem a característica de reunir artistas interessantes de vários segmentos e lugares diferentes para se congraçarem e trocarem informações. De serem, enfim, um acontecimento de união de culturas múltiplas.

Olha, sinceramente, não desejo de forma alguma que esse tipo de situação provoque um sentimento de hostilidade entre os músicos de outros países. Muito pelo contrário, seria maravilhoso haver uma maior interação entre todos, mais camaradagem, interesse, curiosidade em relação ao que é produzido por aqui, sem o terrível chavão de sempre. “Música brasileira? Ah! bossa nova, Carnaval, samba…”.

Então, para que participar de festivais de rock no Brasil? Deveriam pendurar um penacho na cabeça, um esplendor no pescoço, um pandeiro na mão e sair por aí a rebolar triunfais numa dessas escolas de samba da vida.

Acredito que as questões aqui colocadas sejam de interesse geral, assim como a vontade profunda em resolvê-las para realizarmos futuros festivais, onde haja o rejúbilo, o respeito, a descoberta, o amor e a admiração entre todos.

E que a música reine fazendo seres humanos melhores, mais felizes e mais unidos. Amém.